Começo a escrever esta coluna ainda arrependida por ter devorado um folhado de frango minutos atrás. Por que mesmo eu fui até a lanchonete comprar um salgado cujo recheio pareceu ao meu estômago uma bola de cimento? Não poderia ter trazido uma maçã na bolsa?
Volto e me deparo com um livro sobre a mesa. O que eu comi em um ano (e outras reflexões), da Editora Intrínseca, foi escrito por Stanley Tucci, ator americano de Conclave e outros filmes famosos.
Fã de gastronomia como todo bom descendente de italianos, Tucci registrou por 12 meses detalhes de refeições simples a memoráveis, em casa e no exterior, com parentes ou com desconhecidos.
ando por diferentes cidades do mundo, ele dá suas impressões sobre restaurantes, sets de filmagem, comida de reuniões profissionais. Em algumas páginas, acrescenta receitas; em outras, detalha de pratos marcantes - como a sopa stracciatella e a pasta con pajata di vitello a latte de Roma - a cotidianos - como a tortilla com ovos, abacate e tomate do café da manhã e as pizzas e focaccias da casa dos pais.
As memórias servem como ponto de partida para observações de Tucci sobre a vida, a agem do tempo, a perda de pessoas queridas e uma curiosa ode aos 40 anos.
Aos 40, já somos maduros; somos experientes no amor e na perda, no sucesso e no fracasso; provavelmente ainda não precisamos de óculos; ainda conseguimos acordar de manhã e andar dia afora sem dores nas articulações e nos músculos e nossa memória segue intacta. Aos 40, ainda não somos velhos; chegamos apenas ao início da meia-idade e estamos prestes a nos tornarmos respeitáveis. De toda forma, espero que alguém descubra como transformar essa minha brilhante ideia/desejo/ necessidade/ esperança em uma realidade para outra pessoa, pois já estou 20 anos à frente."
Stanley Tucci
Para os leitores, o livro é também um convite a fazer as próprias reflexões. A mais imediata, claro, é: ‘E eu? O que eu comi neste último ano?’. Mas desta podem derivar outras, como: Isso tudo o que eu comi me fez mais bem ou mais mal? E, aprofundando um pouco mais, o que eu ingeri neste ano além da comida? O que eu pus no meu corpo e na minha cabeça de informações, histórias e até “sapos” e caraminholas? Já pararam para pensar nas toneladas de dados, informações e ruídos que absorvemos nesses tempos de infodemia? E, de novo, será que tamanha quantidade tem feito mais bem ou mais mal à nossa saúde?
Talvez você se surpreenda com a resposta e tome uma atitude. Eu, do meu lado, ao menos uma coisa já decidi: folhado de frango nunca mais.