A população brasileira está entre os que mais se preocupam com a crise climática, vê reflexos dela no seu cotidiano e considera ter uma responsabilidade com as futuras gerações, mas não enxerga um plano claro do governo para combatê-la. As conclusões são de uma pesquisa global do Instituto Ipsos.
Na pesquisa, foram entrevistadas 1 mil pessoas acima de 18 anos em 31 dos países participantes, incluindo o Brasil, e 2,2 mil pessoas na Índia. Segundo a pesquisa, 76% dos brasileiros consideram que precisam exercer sua responsabilidade individual para lutar contra as mudanças climáticas; do contrário, estarão falhando com as futuras gerações. O nível é o quinto mais alto entre todos os países, atrás de Filipinas, Indonésia, México e Colômbia.
Em relação à ação dos governos, uma pergunta parecida foi feita e uma resposta parecida foi dada no Brasil: 75% da população considera que o governo falhará com seus cidadãos se não combater as mudanças climáticas agora (atrás de Filipinas, Indonésia, África do Sul e Tailândia).
Avaliando o próprio governo, apenas 36% dos brasileiros veem um plano claro de como ele próprio, as empresas e a população vão combater juntos a crise climática. O número está abaixo do verificado em 2024 (40%), 2023 (41%) e 2022 (40%), superando apenas 2021 (26%), anos em que a pesquisa foi feita com essas questões. E 74% acreditam que o País deveria fazer mais em relação ao tema (sexta posição, atrás de Indonésia, Filipinas, Tailândia, México e Peru).

Para os autores da pesquisa, os dados refletem uma menor atenção para acompanhar a pauta ambiental, enquanto outros problemas são preocupações mais urgentes. “Tem um momento onde as questões sociais tem um peso maior na agenda da população, como saúde ou violência. A mudança climática fica em segundo plano”, diz Tânia Cerqueira, líder de ESG na Ipsos, acrescentando esperar que a COP-30 ajude a evidenciar o aquecimento global.
Para ela, o tema não está em uma bolha e a população vê os efeitos da crise climática nas ondas de calor, nas enchentes e em outros desastres, por isso vê um impacto que chega até as futuras gerações. No entanto, segundo Cerqueira, ainda há uma falta de conhecimento sobre possíveis ações a serem tomadas. Individualmente, as pessoas focam muito, por exemplo, na reciclagem, sem atentar para outras atitudes a seu alcance como o voto ou o consumo.
Já para as empresas, o momento é oportuno. 71% dos brasileiros acham que, se as companhias não tomarem ações contra a crise climática, estarão falhando com seus clientes e trabalhadores; por isso, é uma chance para as marcas explicarem de forma transparente o que tem feito em relação ao tema. “É um bom momento para as marcas voltarem a se conectar com o consumidor”, afirma Cerqueira. No entanto, para a líder de ESG da Ipsos, ainda há muito greenwashing.
Ação
Em relação à posição internacional no combate às mudanças climáticas, o lugar do Brasil também não é bem avaliado. Apenas 30% veem o País como líder no tema, contra 37% que não consideram ter proeminência. Isso apesar do Brasil ser considerado internacionalmente como fundamental para a pauta, pelos biomas, pela biodiversidade e por outras vantagens.
Leia mais
“Talvez (a liderança brasileira) fosse natural, mas por vezes as pessoas não tem nem o conhecimento sobre a importância do País”, comenta Cerqueira. Mas a população também não acredita que se esteja pedindo ao Brasil para sacrificar muito para evitar o pior da crise climática − 30% acreditam que sim e 33% que não, enquanto na Indonésia o porcentual de respostas positivas a essa questão chega a 80%.
Outro exemplo da maior preocupação dos brasileiros é que 81% está preocupado com os efeitos do aquecimento global no próprio País, e a mesma porcentagem com os efeitos em outros países. Porém, 53% discordaram da afirmação de que “o aumento da temperatura média global além de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial não é um grande problema”. Para os pesquisadores esse número é baixo (está abaixo da média internacional) e demonstra desconhecimento sobre o patamar (16% concordaram e o resto não soube responder). Acima dos 1,5 ºC, considera-se que haveria grandes impactos para a vida no planeta, incluindo para as sociedades humanas.
Em praticamente todas as perguntas da pesquisa notou-se um interesse menor dos cidadãos de países europeus, do Japão, dos Estados Unidos e do Canadá em relação à questão ambiental. “Na Europa, o tema estava mais quente na década ada e agora está morno, enquanto questões sociais também tomam proporção. Talvez a questão (de ação) individual não pegue tanto, porque os governos conseguem tomar ações”, pondera a pesquisadora.
No entanto, ela alerta que é importante não perder a esperança. “Estamos num lugar onde ainda é possível reverter. Eles estão mais pessimistas, a gente nem começou a tentar”, diz, reforçando que ainda é necessário atuar para evitar o pior.