BRASÍLIA – O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) avalia a concessão de uma linha de empréstimos de “curtíssimo prazo” para o Banco Master, até que o Banco Central finalize a análise da operação envolvendo o Banco de Brasília (BRB). Segundo pessoas próximas ao fundo, esses recursos seriam suficientes para ajudar no pagamento de dívidas de dois a três meses, mas não no prazo de até dois anos, em valores mais elevados – como desejado pelo Master.
Segundo apurou a reportagem, o FGC está desconfortável em aprovar uma linha de maior porte, porque entende que é preciso, primeiro, que o BC dê o aval para a oferta de compra do BRB, banco controlado pelo governo do Distrito Federal, e finalize a análise completa sobre os ativos do Master. Como o Master tem dívidas a vencer na casa de R$ 500 milhões por mês, o cenário que se desenha é de valores mais modestos para esse empréstimo.
Procurado, o FGC afirmou que não faz comentário sobre suas associadas.

Como mostrou o Estadão, o Master fez um pedido formal ao FGC por uma linha de empréstimo que o ajude a ter liquidez por até dois anos, enquanto negocia a venda de outros ativos para reforçar o seu caixa e levantar recursos para o pagamento de dívidas.
Entre os possíveis interessados na compra de bens do banco e de ativos pessoais de Daniel Vorcaro, controlador do Master, estão os irmãos Joesley e Wesley Batista, da J&F; André Esteves, do BTG; e os fundos Pátria e Latache.
O objetivo do Master é cobrir cerca de R$ 10 bilhões em compromissos a vencer, incluindo CDBs vendidos no mercado prometendo rentabilidade bem acima das oferecidas por concorrentes. Qualquer ajuda do FGC ajudará o Master a fazer uma composição - junto com a venda de ativos - para conseguir honrar esses compromissos.
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Esse prazo é visto como longo demais pelo FGC, que prefere operações mais curtas, pontuais e com uma série de condicionantes. Nem todas as dívidas do Master são cobertas pelo FGC, como as letras financeiras que foram vendidas a fundos de pensão e ao Banco da Amazônia, como mostrou o Estadão.
Uma das preocupações é sobre o uso do dinheiro, além da qualidade dos próprios ativos do Master, que são vistos com ressalvas pelo mercado. Entre eles estão os precatórios (dívidas judiciais do governo) e os direitos creditórios (espécie de pré-precatórios), além da participação em empresas que apresentavam problemas.
Todo pedido enviado ao fundo a por uma análise não só financeira, mas também jurídica. O fato de o BRB ter ampliado o volume de ativos indesejados do Master, de R$ 23 bilhões para R$ 33 bilhões – ou seja, a parte que fica de fora do negócio –, é um dos exemplos sobre as incertezas que dificultam a análise por parte do FGC.
Pessoas a par das negociações envolvendo a venda do Master afirmam que o objetivo é fazer uma combinação desse e do FGC com a venda de ativos de Daniel Vorcaro, como a participação na mineradora Itaminas e na seguradora Kovr, que não estão no balanço do banco.
Como mostrou o Estadão em 5 de abril, a linha de socorro ao Master pelo FGC já estava em negociação. O empecilho era a resistência dos grandes bancos, notadamente o Itaú, que viam no socorro um “risco moral”, de dar saída a uma instituição que cresceu nos últimos anos usando como isca um seguro que é compartilhado por todo o sistema bancário.
O argumento a favor do Master é de que a linha de socorro é um empréstimo, e que a eventual quebra do banco representaria um problema ainda maior, uma vez que o FGC seria convocado para indenizar investidores que compraram os CDBs do Master, com rendimento de até 140% do CDI. O FGC garante até R$ 250 mil por F por instituição bancária.
O Master experimentou um crescimento vertiginoso nos últimos anos e, em 2024, praticamente dobrou de tamanho, tendo como estratégia captar recursos de investidores prometendo taxas de retorno muito acima das oferecidas no mercado.