Carlos Andreazza: "Sem base na realidade, governo morde mais para cobrir sua gastança"
Colunista fala sobre a divulgação do aumento do IOF e como o governo voltou atrás de forma desordenada.
O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, avalia que o Ministério da Fazenda fez bem em recuar antes da abertura do mercado na decisão de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre remessas para fundos de investimento no exterior.
Segundo Salto, a medida tinha sido tomada de forma precipitada e foi um erro tático, uma vez que anulou o efeito positivo causado pelo anúncio do bloqueio e contingenciamento do orçamento em valor bem acima ao que era esperado pelo mercado.
Recuo do governo mostra falta de convicção nas suas decisões, diz Carlos Andreazza
Colunista fala sobre o recuo do governo na decisão de aumentar alíquota do IOF.
Apesar disso, o economista entende que o governo não vai conseguir resolver da noite para o dia todos os ruídos gerados pelo vaivém no IOF. “É uma pena porque o anúncio do relatório bimestral tinha sido bom”, lamenta Salto, referindo-se aos mais de R$ 31 bilhões em congelamento de gastos deste ano.
O economista-chefe avalia que o Ministério da Fazenda acabou se precipitando porque as mudanças no IOF deveriam ter sido debatidas antes com atores representativos do mercado e com o Banco Central (BC). Nesta sexta-feira, 23, em entrevista à imprensa, o ministro Fernando Haddad disse que conversa frequentemente com o presidente do BC, Gabriel Galípolo, mas que a minúcia do decreto do Executivo não a pela autoridade monetária.

“Nesse ponto, eu discordo dele (de Haddad), porque o Banco Central tem a prerrogativa de cuidar da política cambial. Da noite para o dia vem um IOF de zero para 3,5% em cima de investimento no exterior. Isso é controle de capitais. Se isso é controle de capitais, vai afetar a taxa de câmbio, vai afetar as decisões do Banco Central, vai afetar a confiança dos agentes”, comenta Salto. “Foi um erro, sim. Devia ter conversado antes com o Banco Central”, acrescenta.
Na quinta-feira, 22, após o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, dizer que a mudança no IOF havia sido comunicada ao BC, Haddad publicou no X que nenhuma das medidas fiscais anunciadas foi negociada com a autarquia. Para Salto, o episódio evidenciou “certa descoordenação” na equipe.
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Conforme o especialista em contas públicas, o recuo no IOF deve reduzir a arrecadação de R$ 20,5 bilhões prevista pelo governo com a medida, uma conta que ele considera bastante otimista. Salto pondera, no entanto, que neste momento ainda não é possível estimar o efeito do recuo por falta de dados mais detalhados.
De qualquer forma, ele ressalta que o cumprimento da meta fiscal deste ano não deve ser prejudicado, já que o governo revisou para cifras mais realistas a expectativa de receitas em 2025.