A Grécia pode ser vista apenas como um destino turístico por muitos, seja por abarcar pontos históricos, pela gastronomia ou cultura. Contudo, o país se tornou um lar para aproximadamente 4 mil brasileiros, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores.
A imigração geralmente acontece por uma oportunidade de trabalho (veja aqui como buscar vagas no país).
A busca por novos caminhos profissionais foi o que motivou o cearense Dave Sousa, que imigrou em 2012 para atuar na área de marketing digital.
Na época, ele enviou currículos para Índia, Reino Unido e Estados Unidos antes de ser contratado por uma empresa grega.
Atualmente, trabalha como empreendedor e influencer: seu perfil no TikTok já soma 65,5 mil seguidores, em sua maioria gregos. Parte de sua trajetória no país envolveu trabalhar na televisão grega com programas de entretenimento e humor, e seu perfil nas redes segue a mesma linha.
No vídeo a seguir, Sousa está com outras influenciadoras comparando a diferença da sonoridade de marcas e nomes falados por brasileiros, gregos e coreanos:
Como empreendedor, Sousa conta sobre a dificuldade que as pessoas podem encontrar para manter uma empresa na Grécia.
Segundo ele, o país é muito burocrático, as fiscalizações são rigorosas e um deslize pode resultar em uma multa alta, além dos impostos, que não agradam muito.
Como é a recepção dos brasileiros na Grécia?
A fotógrafa turística Virna Lize, 53 anos, afirma que há uma grande abertura dos gregos para imigrantes brasileiros.
Quando ela se mudou com a família, em 2008, não sabia outro idioma além do português e tinha dificuldades para se comunicar, mas mesmo assim não se sentiu rejeitada no país.

Um ponto positivo apontado por ela é que a maior parte dos cidadãos gregos fala inglês, o que derruba a grande barreira linguística. É possível viver no país sem aprender o mínimo de grego previamente.
O maior choque cultural para um brasileiro costuma ser o ambiente de trabalho, que — embora parte significativa seja voltada ao turismo — é mais formal e polido. Os gregos podem parecer mais fechados nessa área, em específico.
“Culturalmente, principalmente no ambiente profissional, eles são mais corretos, pois há grande receio de punições. Todo trabalho formal, por exemplo, exige licença específica”, explica Virna
É possível imigrar sem um emprego definido?
Para brasileiros sem cidadania europeia, o recomendado é buscar vagas em empresas transnacionais com atuação no Brasil e na Grécia.
A Grécia é extremamente rígida com documentação e dificilmente flexibiliza regras, especialmente por ser porta de entrada de imigrantes do Oriente Médio para a Europa.
Imigrantes sem visto de trabalho não encontram oportunidades na maior parte das empresas, pois as multas são altas e a fiscalização é rigorosa.
O professor Demetrius Cesário Pereira, do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes, afirma que o contexto político deixa a situação mais delicada.
“O crescimento da imigração tende a endurecer as regras, especialmente com a ascensão de partidos de extrema direita contrários aos imigrantes.”
Para brasileiros que possuem aporte de qualquer país da União Europeia, o processo é facilitado: não há necessidade de visto de residência ou trabalho.
Cônjuges de cidadãos gregos ou da União Europeia podem solicitar uma autorização de residência.
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Salários e custo de vida na Grécia
O salário mínimo na Grécia em 2025 está em 968 euros (R$ 6.308), segundo o site Trade Economics. Nem Sousa nem Virna revelaram quanto ganham.
Os entrevistados relataram um aumento no custo de vida do país. Virna, que se mudou em 2008, no auge da crise econômica na Grécia, viu o país se recuperar lentamente. Ainda assim, destaca o encarecimento do aluguel nos últimos anos.
“Há 5 anos, o aluguel de um lugar pequeno, com quarto e sala, custava 200 euros. Hoje, o mesmo lugar não sai por menos que 400 euros.”
O professor Demetrius Pereira diz que a crise imigratória pode piorar a situação para brasileiros na Grécia.
“A recuperação econômica tende a aumentar as oportunidades para todos. Apesar disso, os estrangeiros acabam ficando, em geral, com empregos piores, podendo sofrer com as ondas de imigração provenientes das crises constantes no Oriente Médio”, declara.
Mesmo que os gregos tenham vantagem na comparação com brasileiros em relação ao poder de compra local, cerca de 40,8% maior do que no Brasil, viver na Grécia implica um custo de vida 80% maior, segundo dados do site Numbeo, especializado em catalogar custo e qualidade de vida ao redor do mundo.
Virna acredita que uma pessoa que imigra com a família tenha mais facilidade em enfrentar os desafios econômicos no país, caso dois ou três membros possam trabalhar também.
Veja a comparação de alguns gastos entre a capital de Atenas (Grécia) e a cidade de São Paulo, segundo o site Numbeo:
O que justifica a imigração?
Tal como ocorre em outros países na União Europeia, a qualidade de vida é o principal motivo para imigrar e escolher permanecer no país.
O clima mais ameno e próximo ao do Brasil agrada, além de educação, segurança e transporte.
“Eu vejo vantagem em ser um lugar sem violência. Os meios de transporte funcionam, não sinto necessidade em ter um carro. Tem trem, metrô, ônibus elétrico, ônibus comum. É muito mais fácil andar a pé”, complementa Virna.
Para Sousa, a Grécia é muito mais receptiva do outros países da Europa, onde a xenofobia é mais forte.
“Assim como no Brasil, existe um grande interesse do povo em se comunicar com você. Os gregos são apaixonados por brasileiros. Esse foi um dos motivos que me fizeram tomar a decisão de ficar aqui em vez de ir para um outro país.”