Calor humano. Nenhuma IA vai substituir a simpatia do carismático Olivardo. Ele conquista a todos! Tampouco a paixão pelos vinhos do Amilcar Bozelli, o sommelier do Quinta, que faz a degustação e conta a história da casa. Inclusive, ele guarda um pote de água para quando tem um pet no grupo de visitantes. Ele teria amado conhecer a Ella.

Preciso agradecer à dachshund Kimi, pet da estudante de enologia Maria Eduarda de Moraes, que representa a quarta geração da vinícola XV de Novembro, por ter representado a Ella nas fotos feitas embaixo do parreiral onde acontecem os piqueniques.
Ah! Jamais vou esquecer o rondelli recheado de quatro queijos e alcachofra do restaurante Tia Lina e, claro, da simplicidade e bom humor do Mauro Goes, que toca ao lado dos irmãos o trabalho que começou com dona Lina no início da década de 90, quando vendia marmitas congeladas na cidade. Assim como, da cachorrinha sem raça definida Cindy com seu pelo preto e olhos claros, que circula por ali.
Na minha lista ainda está o irretocável NOR Hotel & Spa, que tive a oportunidade de ficar hospedada e conversar com o gerente geral Julian Fogaça. O hotel recebe cerca de 200 cães por mês de porte pequeno e está aberto a mudanças. "O pouco que falamos já gerou vários insights. Vamos fazer uma aba nova no site com as regras pet e a abertura para sem limite de porte, respeitando quem tem pet e quem não tem e quer seu espaço respeitado", comenta Julian.
O complexo gastronômico Vila Don Patto, que tem uma imagem de São Roque ao lado do seu cachorro e serve um bacalhau na telha de comer de joelhos, tem uma sorveteria com uma opção de sorvete para os cães e áreas reservas, junto aos restaurantes, para os clientes bem acompanhado de seus pets.
Pet Friendly em construção
Se São Roque é pet friendly? Eles estão no caminho, sem dúvida. A cada final de semana, am cerca de 30 mil pessoas pelo Roteiro do Vinho, formado por 57 estabelecimentos, que diga-se de agem, está muito bem organizado. Ainda há uma cultura voltada para cães pequenos e pouco conhecimento sobre comportamento animal. Entretanto, já há área pet nos restaurantes e junto disso, latidos excessivos e os habituais incidentes, mas nada que não possa ser organizado, ou melhor, reorganizado. O fato é: tem demanda e isso é maravilhoso. O que falta é profissionalizar e engajar os estabelecimentos para aceitarem os cães de forma inclusiva, sem limitação de porte, mas com a exigência de bom comportamento. Sempre com hospitalidade e protocolo de segurança.
"Hoje, cerca de 40% dos viajantes escolhem seus destinos com base na receptividade aos pets, o que mostra que o turismo pet friendly não é apenas uma tendência, mas uma oportunidade concreta de movimentar a economia local. São Roque, como Estância Turística consolidada, reconhece esse potencial. A parceria com a Mars Petcare, por meio do programa Melhores Cidades para os Pets, está alinhando bem-estar animal, desenvolvimento sustentável e geração de renda. Um destino que acolhe os pets é também um destino mais humano, atrativo e economicamente dinâmico", pontua o Secretário de Turismo, Desenvolvimento Econômico, Esporte e Lazer, Luiz Liza.

Em 2024, a Universidade Pet Friendly fez dois treinamentos para os estabelecimentos comerciais da cidade. A Serra da Araucária esteve presente e recebeu o kit de sinalização, que está exposto na área social da pousada, orientando como os tutores devem conduzir seus cães durante a estadia. "Um ano após o treinamento, dobramos a quantidade de pets recebidos. Aprendemos que pet friendly não significa permitir tudo e, sim, possuir um ambiente que o pet esteja confortável, mas os hóspedes humanos também. A dica dos mosquetões para prender a guia, traz conforto e segurança. Porque se não fizéssemos o curso, talvez fosse normal aceitar pets reativos sem compreender que o tutor precisa ser o responsável", revela a empresária Lourraine Amorim. Em 2025, haverá mais uma rodada de capacitação.

Quinta do Olivardo
O Quinta do Olivardo é um complexo com três restaurantes, degustação de vinhos, fábrica de pastel de Belém, tirolesa, mini fazendinha e um lago. Eu cheguei em uma tranquila quarta-feira, mas soube que aos finais de semana a "coisa ferve".
O bacalhau, carro-chefe da casa, é maravilhoso e junto dele vem uma equipe treinada para fazer sua refeição ser ainda melhor. Fomos muito bem atendidos pela Amanda, que explicou com toda calma do mundo, o cardápio ser dividido entre o peixe em postas ou lascas. Optamos pelas postas e ficamos em dúvida entre o Bacalhau do Valdir e o Lagageiro. A promessa do visual colorido do Valdir nos fez escolhê-lo. E, sim, o prato é tão bonito quanto apetitoso.

Mesmo sabendo que é bem servido, não pulamos o bolinho de bacalhau, que é um clássico e nos remete ao começo dessa história, mais precisamente ao ano de 2007.

Olivardo, depois de trabalhar por 15 anos em uma vinícola da região, perdeu o emprego, mas não o sonho de um dia ter seu próprio vinhedo. Pegou o que tinha, vendeu e comprou uma casinha na atual estrada da Rota do Vinho. Então, começou a plantar uvas. No início vendia vinhos e sucos de uva fabricados pelos vizinhos e para acompanhar, bolinhos de bacalhau - receita da família portuguesa da sua esposa, Cintia Saqui. A clientela cresceu, novas receitas foram tiradas dos livros e as quatro mesas se multiplicaram em 700. Hoje, tem a Pisa da Uva, a Festa de São Martinho, as noites temáticas com fado e o jantar do Vinho dos Mortos.
Conselho? Inclua, antes ou depois do almoço, uma aula de história conduzida pelo Amilcar com direito a provar os vinhos do Olivardo. No dia do nosso almoço não pudemos fazer, mas voltamos para completar a experiência e fez toda a diferença.

Começamos provando o branco, amos para o Merlot e chegamos no Malbec, que ganhou a minha atenção. Então, partimos para o Cabernet, até finalmente, chegar no assemblage, que me conquistou: um blend de 50% de Cabernet Sauvignon, 25% de Ancelota e 25% de Marcelã enterrado por 12 meses, que remete a uma tradição de 1807, quando Napoleão invadiu Portugal e os vinhos foram enterrados para que não fossem roubados pelos saqueadores e, depois de desenterrados, estavam ainda melhores.
Neste dia, tive a sorte de conhecer o Olivardo e me encantar com a sua gentileza. Também pude falar um pouco sobre os nossos cães e o desafio e a necessidade de criar um ambiente pet friendly equilibrado. A Quinta já tem áreas para sentar com os pets, que são vistos como clientes. E garanto que vai melhorar ainda mais. Na próxima ida a São Roque quero me hospedar nos quartos projetados dentro de tonéis de vinhos e, logo mais, vou abrir o assemblage que trouxe comigo e será tomado enquanto escrevo as próximas páginas do livro da Ella.
Vinícola XV de Novembro
Agendamos um piquenique na vinícola XV de Novembro. Ao chegar, retiramos nossa cesta na loja e fomos para o parreiral, que fica ao lado. Embaixo das uvas ribas são montados "lounges". Em cima de uma grama sintética, colocada para dar mais conforto aos turistas, há almofadas. Ao lado, uma estrutura de madeira elevada, coberta por uma toalha colorida, que acomoda os insumos de produtores locais. Você poderá saborear o pão com fermentação natural e os muffins de alcachofra e tomate seco da Guida Marques Moraes, o patê de alcachofra do Empório Sant'Angela, os queijos e jamón da Rar Gastronomia e o alfajor e trufa da Rocca enquanto toma o Vinho Tempranillo Rosé, que ganhou medalha de Ouro em 2022 no Concurso de vinhos e destilados do Brasil.
Eu e a pet Kimi, por coincidência, chegamos na mesma hora - se tivéssemos combinado não daria tão certo. Pedi para ela e a Rogéria de Moraes, sua avó materna e dona da vinícola, serem minhas personagens na reportagem. Depois do ensaio de fotos, abrimos o rosé e demos início a conversa que se estendeu até o escurecer. "Fechamos o parreiral".

Portanto, meu conselho é: reúna bons amigos, destes que a conversa vai longe, seu pet e desfrute da elegância e frescor do tempranillo, que entrega frutas vermelhas no nariz e mineral na boca, sem economizar boas risadas e histórias de vida. Chegue cedo, pois a vinícola fecha às 18h e o tempo "voa" embaixo dos parreirais.
Como bem diz Maria Eduarda de Moraes: "Ter um espaço pet friendly além de significar que os pets são super bem-vindos, representa o conforto de poder sair de casa com o seu animalzinho sem se preocupar com ele, afinal vai aproveitar tudo ao seu lado! Assim, nossa maior satisfação para prestar ao cliente é um espaço confortável, diante da natureza, dos parreirais e com uma boa garrafa de vinho do Tempranillo Rosé da linha Quinta Moraes, que consegue ser fácil e ainda sim, complexo".
Tia Lina
A Tia Lina me fez esquecer do regime, confesso. Dizem que o melhor tempero é a fome, que nada, é o frio. E São Roque cumpre muito bem este quesito, portanto, os graus um pouco mais baixos do dia em que fui conhecer o restaurante italiano do KM 10, que é amado por moradores e visitantes, deixaram a primeira garfada do rondelli, o campeão de vendas, ainda melhor.
Ele sai fumegante da cozinha, com o queijo gratinado. Ao olhar a travessa em que é servido, você pensa: vai sobrar. Não, raspamos o pirex, pois a massa caseira é leve e o molho de tomates, esmagados com a mão e assados por horas, é nada menos do que divino. Caso você pense, como eu, que o fato de ser recheado com 4 queijos e alcachofra o deixará pesado, saiba que não vai.

O melhor? No andar de baixo, há um empório com todos os pratos do cardápio à venda: desde a massa congelada aos molhos, além de vinhos, patês, geleias e compotas.

Mauro Goes, um dos filhos da Dona Lina, cuida dos negócios ao lado dos irmãos e tem o mesmo carisma de Olivardo. Será efeito do vinho? Ele veio à mesa, contou da sua mãe e de quando ela vendia marmitas congeladas pela região, de como rapidamente seus pratos conquistaram os paladares e apontou para um dos salões: "ali eram os quartos, nós morávamos aqui". Comida boa conquista fama rapidamente e a casa foi ganhando cômodos extras, portanto, hoje o Tia Lina quadruplicou de lugares, mesmo assim, os sábados e domingos são lotados, sempre há filas.
Dona Lina, que abriu as portas da sua cantina em 1999, volta e meia aparece. Ela está aposentada, ou o bastão para a filha Carol, que cresceu a vendo cozinhar e segue a tradição de replicar perfeitamente as receitas da família de imigrantes Sguelia Goés para nós.
Mais um restaurante da Rota dos Vinhos, que já entendeu que o público com pet só cresce e reservou um espaço coberto e com aquecedores para nós. Pontos para eles! Há finais de semana que tudo vai bem, mas tem aqueles que os latidos am do aceitável e que o pé dos garçons ganham bicadas. Então, viemos ajudar.
Villa Don Patto
Da estrada você percebe a grandiosidade da Vila Don Patto. Paramos o carro perto da adega, no segundo piso, onde são vendidos vinhos e demais insumos. amos pela sorveteria, que também tem sorvete para os pets - bacana, né? Vi os charmosos espaços externos com mesinhas e cadeiras e o redário. Um pouco à frente, chegamos às parreiras, palco dos piqueniques com as cestas da Vinhas da Vila.
Então, vêm os restaurantes: o tradicional português onde comemos o bacalhau na telha, que estava delicioso e é super bem servido - pedindo uma entrada, acredito que dê para compartilhar entre três a quatro pessoas, ele funciona todos os dias. Inclusive, ao seu lado está a área reservada para sentar com os pets, enfeitada com coloridos guarda-chuvas aéreos e vista para as colinas. Quem quer comer carne, há o Bistrô & Parrilla. E massas, o italiano La Pasta - aberto apenas aos finais de semana.

Caminhando pelo complexo, você vai se deparar com a imagem de um homem com a túnica levantada, mostrando a perna, e um cachorro ao lado e aqui vai um pouquinho de história para entendê-la. A cidade de São Roque, que tem nome de santo, foi fundada em 16 de agosto de 1657 pelo capitão paulista Pedro Vaz de Barros, um homem religioso e devoto de São Roque, o qual nasceu na França no século XIV e contraiu peste ao cuidar de enfermos. Dizem que ele se refugiou na floresta e um cachorro lambia sua ferida na perna e trazia pão para se alimentar. Roque se cura e segue seu trabalho de ajudar as pessoas carentes e enfermas e para muitos ele é o santo padroeiro dos cães.

Ao ir embora, resolvi ler novamente a placa que havia chamado minha atenção na entrada: "Consulte o regulamento sobre a permanência de seu pet na Vila Don Patto". Onde há aviso, tem histórico. Busquei investigar o que havia acontecido e escutei "mais do mesmo": uma criança mexeu em um cachorro e tomou uma mordida. Onde estava o pai que não fiscalizou? E o tutor que não viu a criança se aproximar? Hora de falarmos a respeito destes acidentes corriqueiros, pois isso pode acontecer em qualquer lugar e momento. Queremos levar nossos cães, mas temos que ter responsabilidade sobre eles, certo? Assim como, os mesmos devem ser respeitados, sem "mãozinhas" que surgem do nada. É uma estrada de mão dupla.
NOR Hotel & Spa
Conheci o Julian Fogaça, gerente do NOR, em um hotel de Ilhabela quando visitei com a Ella, com seus 19 quilos, uma amiga que estava hospedada. O hotel não aceitava pets de porte maior e, claro, que aproveitei a situação para falar que o mais importante não é o tamanho e, sim, a educação que o cão recebeu de seu tutor. E a Ella tinha o comportamento perfeito. O Julian gravou minhas palavras e nos reencontramos. E, mais uma vez, dividi com ele minha experiência em locais pet friendly.
O NOR é um sonho. Seu paisagismo faz com que as 33 suítes fiquem em harmonia. Existe uma bem-vinda privacidade. Tudo é lindo, da entrada aos quartos. Você vai parando nos pontos intagramáveis como a adega, que parece uma sauna, e tem vista para a piscina.
O café da manhã é outra atração à parte. No primeiro dia, ele foi servido na mesa e eu já adorei. Há pratos quentes preparados pela cozinha e uma seleção de frutas e pães sob medida. Quando o hotel está cheio, o café é servido no estilo buffet e os olhos enchem de tantas opções coloridas, apetitosas e organizadas com absoluta precisão.

Não tive a oportunidade de almoçar ou jantar no Rocco, o restaurante do hotel, mas certamente deve ser ótimo. O atendimento dos garçons é irretocável. As mesas pet friendly ficam no deque externo, que é coberto e conta com aquecedores e mantinhas para driblar o frio. Este é o melhor lugar para sentar, sem dúvida, pois a natureza ao redor é exuberante, porém em um dia mais gelado ou com chuva, pode ser limitador.

Estou consultando a vigilância sanitária da cidade, que ainda não me deu retorno, para entender se há limitação, pois ela é municipal (não estadual) e a de São Paulo capital limita apenas o contato dos animais com a manipulação de alimentos, nada é dito que eles podem sentar conosco na área interna. Este é um erro bem comum, que deve ser esclarecido.
Para equilibrar o consumo de calorias há uma quadra de beach tênis e outra de tênis, que foi o meu deleite. Pelo hotel, há diversos gramados e lounges para sentar. Minha agenda estava lotada com as visitas nas vinícolas e restaurantes da Rota do Vinho, mas se eu tivesse mais tempo, acho que faria do NOR meu refúgio, pois ele é um hotel que tem tudo: charme, sofisticação, piscina e sauna lado a lado, natureza com jardins super bem cuidados e uma jacuzzi tamanho grande com teto translúcido no quarto.

Tudo indica que o porte dos cães, de nove quilos até então aceito, vai mudar. Obviamente, aconselhei construir uma regra pet inclusiva, mas com respeito e cuidados a todos: demais hóspedes, cães e funcionários. Estou animada.

Por último e não menos importante: este mocinho da foto acima, com olhar sedutor, está para adoção. A equipe do NOR está cuidando dele e dos seus irmãos. Quem sabe ele pode ser seu e vocês vão viver juntos momentos incríveis por lá?