O que estão compartilhando: vídeo no Instagram promete mostrar “três bebidas que podem matar o câncer”. As receitas para um suco de graviola, suco verde e chá de cúrcuma com pimenta preta constam na legenda da postagem.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Embora os alimentos citados na postagem possam ter propriedades benéficas, nenhum deles tem comprovação como tratamento de tumores. A alimentação saudável pode contribuir na prevenção e auxilia no combate ao câncer. Mas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), não se pode atribuir qualquer poder de cura a um alimento específico. O Inca enfatiza que recomendações de saúde e alimentação devem estar baseadas em evidências científicas.

Saiba mais: O conteúdo verificado aqui promete três bebidas para matar o câncer e combater doenças. O áudio menciona somente a importância de beber água. É na legenda da postagem que estão as supostas receitas “anticâncer”.
Um dos sucos recomendados é o de graviola. Como o Estadão Verifica mostrou nesta checagem, não existem provas suficientes da ação da fruta contra o câncer. Embora a graviola tenha propriedades antioxidantes, não há pesquisas que comprovem resultados concretos em pacientes de câncer. O alimento não substitui o tratamento convencional contra tumores.
Outra bebida indicada pela postagem é o chá de cúrcuma com pimenta-preta. No caso da cúrcuma, foi demonstrado em culturas de células que uma de suas substâncias, a curcumina, é capaz de bloquear a multiplicação de vários tipos de células cancerígenas. Mas esses resultados não foram alcançados em estudos com humanos. Os estudos clínicos realizados até hoje envolveram poucos participantes e um período de observação curto, o que limita seu valor científico.
O terceiro suco citado na publicação é uma mistura de couve e gengibre. Segundo a ONG britânica Cancer Research UK e o Francis Crick Institute, de Londres, a digestão de vegetais crucíferos (como a couve) produz substâncias químicas anticancerígenas. Porém, esse resultado foi observado apenas em camundongos e em intestinos em miniatura criados em laboratório. Ainda falta saber se as moléculas desses vegetais têm o mesmo efeito nas pessoas.
Quanto ao gengibre, pesquisas muito limitadas sugerem que ele pode aumentar certos marcadores anticancerígenos, particularmente no caso do câncer de cólon. Entretanto, as implicações clínicas permanecem incertas, segundo a Fundação contra o Câncer da Bélgica.
Não existe alimento específico que cure câncer
O oncologista clínico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Paulo Costa Diniz explica que o câncer é uma doença complexa, que resulta de alterações genéticas e ambientais. Essas alterações fazem com que as células do corpo se proliferem de forma desordenada.
“Tanto é que o tratamento é sempre uma dificuldade muito grande, porque a gente precisa de agentes sociais, diferentes tipos de terapias e cirurgia”, exemplificou.
O Inca afirma que não se pode atribuir qualquer poder de cura do câncer a um alimento específico. A alimentação saudável, na verdade, contribui na prevenção e auxilia no tratamento do câncer. Isso acontece por meio da manutenção de um peso corporal adequado, por exemplo.
Diniz explica que existem dietas protetoras, que dão mais saúde e podem reduzir o risco de câncer em pacientes. “Muitos de nós queremos receitas milagrosas para combater o câncer, para reduzir o risco, mas não fazemos o que realmente é recomendado”, observou o médico.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda cinco porções de frutas e/ou verduras por dia para adultos, entre outras orientações. Segundo o oncologista, fibras e antioxidantes naturais são substâncias capazes de diminuir o estado pró-inflamatório no organismo.
“Pró-inflamatório” é um estado em que as células ficam inflamadas. Isso produz substâncias que estimulam a divisão celular. Segundo Diniz, esse pode ser um mecanismo de formação de novos cânceres.
Para a prevenção de câncer, mais do que alimentos específicos ou nutrientes isolados, a recomendação do Inca é evitar as carnes processadas (embutidos), os alimentos e bebidas ultraprocessados e as fast food.
O Instituto também recomenda uma alimentação rica em alimentos de origem vegetal como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e outras leguminosas. “Destaca-se que as recomendações do Inca são baseadas em robustas evidências científicas”, ressaltam.