O serviço de inteligência interna da Alemanha divulgou nesta sexta-feira, 2, que classificou o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em segundo lugar nas eleições nacionais de fevereiro, como uma organização de extrema direita. Isso torna o partido sujeito a uma vigilância mais ampla e rigorosa.
O Escritório Federal para a Proteção da Constituição descreveu o partido como uma ameaça à ordem democrática do país, afirmando que ele “desrespeita a dignidade humana” — especialmente por meio do que chamou de “agitação contínua” contra refugiados e migrantes.
A decisão de classificar o AfD como grupo extremista de direita significa que agora as autoridades podem usar informantes e ferramentas como gravações de áudio e vídeo para monitorar suas atividades em todo o território alemão. No entanto, isso também pode fortalecer as alegações do partido de que está sendo politicamente perseguido.

Partidos de extrema direita têm ganhado espaço em toda a Europa, e o AfD atrai atenção internacional — incluindo apoio do bilionário da tecnologia Elon Musk, um aliado próximo do presidente dos EUA, Donald Trump.
Os líderes do partido, Alice Weidel — que se encontrou com o vice-presidente dos EUA, JD Vance, após as eleições de fevereiro — e Tino Chrupalla, condenaram a medida, chamando-a de “um golpe severo para a democracia alemã”, dado que o partido se tornou uma das forças políticas mais populares do país. Eles afirmaram que a decisão teve motivação política, o que o governo nega.
“O AfD continuará a se defender legalmente contra essas difamações que colocam a democracia em risco”, disseram.
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Histórico do AfD
O AfD foi fundado em 2013 e ao longo dos anos se deslocou cada vez mais para a direita. Inicialmente, seu programa político focava na oposição a resgates financeiros a países da zona do euro, mas sua forte oposição à decisão da então chanceler Angela Merkel de permitir a entrada de um grande número de refugiados em 2015 consolidou o partido como uma força relevante.
Os escritórios de inteligência interna dos Estados da Turíngia, Saxônia e Saxônia-Anhalt já haviam classificado os respectivos braços estaduais do AfD como grupos “comprovadamente extremistas de direita”.
Na decisão, o serviço de inteligência afirmou que a concepção do AfD sobre a identidade alemã, baseada em critérios étnicos, é “incompatível com a ordem democrática livre”.
“O partido visa excluir certos grupos populacionais da participação igualitária na sociedade, sujeitando-os a discriminação inconstitucional e atribuindo-lhes um status legalmente inferior”, afirmou. “Especificamente, por exemplo, o AfD não considera cidadãos alemães com histórico migratório de países predominantemente muçulmanos como membros plenos do povo alemão, segundo a definição étnica do partido.”
O relatório acrescenta que as posições políticas do partido sustentam uma “agitação contínua” contra minorias, alimentando o medo e a hostilidade contra esses grupos.
“Isso é evidente nas numerosas declarações xenofóbicas, antiminorias, anti-islâmicas e antimuçulmanas feitas constantemente por líderes do partido”, diz o documento.
O partido já vinha sendo monitorado pelo BfV (o serviço de inteligência) por ligações com extremistas e por laços com a Rússia. Dos 38.800 extremistas de direita contabilizados pela agência no ano ado, mais de 10.000 são membros do partido.
A ministra do Interior, Nancy Faeser, disse em comunicado que a classificação foi “clara e inequívoca” e se baseou em uma “auditoria abrangente e neutra” de 1.100 páginas, sem influência política.
Segundo a lei alemã, qualquer vigilância deve respeitar o “princípio da proporcionalidade”.
A medida não equivale a uma proibição do partido, algo que só pode ser decidido mediante solicitação de uma das duas câmaras do Parlamento ou do governo federal ao Tribunal Constitucional Federal./AP