O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu itiu em público pela primeira vez que pretende “colocar em prática o plano do presidente Donald Trump”, referindo-se a expulsar os palestinos da Faixa de Gaza. O próprio Trump já abandonou a ideia, ao constatar que nenhum país árabe aceitaria o desterro dos palestinos.
Em reunião fechada do gabinete, Netanyahu itiu que a destruição das casas dos palestinos na Faixa de Gaza é proposital, para tornar inviável sua permanência, segundo o jornal The Times of Israel. O bloqueio da entrada de ajuda humanitária e os bombardeios são parte da mesma estratégia.
Os ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e das Relações Exteriores, Gideon Saar, defendem a expulsão dos palestinos e a anexação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, onde vivem desde a expansão árabe do século 7.

Os partidos desses três ministros somam 17 cadeiras no Parlamento, no qual Netanyahu tem maioria de apenas 8. Suas posições são impopulares em Israel. De acordo com as pesquisas, 70% dos israelenses querem o fim da guerra e a negociação para a libertação dos reféns.
Dos 251 reféns capturados pelo Hamas em outubro de 2023, 140 foram libertados mediante negociações; ao menos 43 morreram como consequência direta ou indireta dos ataques israelenses ou em operações de resgate fracassadas; e apenas 8 foram resgatados em operações militares.
Os familiares e a opinião pública acusam o governo de priorizar a continuidade da guerra em vez da volta dos 60 reféns vivos e mortos.
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O general e líder oposicionista Yair Golan advertiu que Israel arrisca tornar-se um Estado-pária e acrescentou: “Um país saudável não faz guerra contra civis, não mata bebês como atempo e não se engaja em deslocamento de população em massa”. Para o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert, os comentários de Golan refletem “o que muita gente pensa”.
Outro general e ex-primeiro-ministro, Ehud Barak, escreveu em artigo no Financial Times que “um acordo significaria o retorno dos reféns restantes, o fim dos combates e da crise humanitária em Gaza e o início da reconstrução — oferecendo a Israel a chance de se integrar a uma nova arquitetura regional, com a normalização com a Arábia Saudita e a participação no corredor econômico Índia-Oriente Médio-Europa.
Mas isso “ameaça a coalizão, abre espaço para novas pressões por uma comissão de inquérito sobre o 7 de outubro e pode acelerar o julgamento de Netanyahu por corrupção”, paralisado desde sua volta ao governo, conclui Barak.
A guerra serve para adiar o encontro do primeiro-ministro com a Justiça.