Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, recebeu o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, na Casa Branca no início de abril, um repórter lembrou a Trump que sua promessa de campanha para 2024 de acabar com a guerra na Faixa de Gaza continuava não cumprida.
Recentemente, Israel rompeu um tênue cessar-fogo em sua guerra de 18 meses contra o grupo terroristas Hamas e renovou seu bombardeio em Gaza. Mas Trump demonstrou otimismo.
“Eu gostaria que a guerra parasse”, respondeu ele. “E acho que a guerra vai acabar em algum momento que não será em um futuro muito distante”. Um mês depois, as perspectivas de paz em Gaza diminuíram ainda mais.

O governo de Netanyahu alertou na segunda-feira sobre uma escalada israelense “intensa” no território palestino depois que seu gabinete de segurança aprovou planos para convocar dezenas de milhares de reservistas para um novo ataque e a possível ocupação da região.

Linha-dura
Os linha-dura dentro do governo israelense insistem que somente a força pode pressionar o Hamas a finalmente libertar os mais de 20 reféns que ainda mantém em cativeiro e encerrar o conflito. Mas muitos analistas dizem que uma grande escalada israelense poderia acabar com qualquer esperança de paz.
Segundo o site Axios, Israel estabeleceu a visita do presidente Trump ao Oriente Médio na próxima semana como prazo final para um novo acordo de reféns e cessar-fogo, com uma operação terrestre em massa a ser iniciada se nenhum acordo for alcançado.
A intenção de Israel é reocupar gradualmente toda a Faixa de Gaza e mantê-la indefinidamente se não houver acordo até 15 de maio. Os planos para a operação exigem que as Forças de Defesa de Israel (IDF) arrasem todos os edifícios que permanecerem de pé e desloquem praticamente toda a população de 2 milhões de pessoas para uma única “área humanitária”.

A questão agora é como Trump reagirá. Analistas afirmam que, depois de uma primeira enxurrada de diplomacia para libertar os reféns e chegar a um acordo de longo prazo, Trump e seus funcionários de alto escalão se distanciaram do conflito. Isso resultou em uma espécie de carta branca para Netanyahu, que parece estar preparado para usá-la.
“No início do governo, todas as promessas eram sobre Gaza”, disse Ilan Goldenberg, especialista em Oriente Médio nos governos de Obama e Biden. “Mas, quando o cessar-fogo fracassou, Trump basicamente deu luz verde aos israelenses para fazerem o que quisessem”.
“Minha impressão é de que ele não está tão envolvido”, acrescentou Goldenberg, que agora é vice-presidente sênior da J Street, um grupo de defesa política judaica de centro-esquerda. “Ele meio que ficou entediado”.
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Viagem de Trump
Trump planeja viajar para o Oriente Médio na próxima semana, com paradas na Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Atualmente, não se espera que Trump visite Israel. Autoridades americanas e israelenses dizem que a guerra em curso em Gaza é o principal motivo. “Nada de bom pode resultar de uma visita a Israel no momento”, disse uma autoridade dos EUA ao Axios.
Autoridades americanas e árabes envolvidas nos preparativos para a viagem disseram que Gaza não é uma das principais prioridades de Trump e que ele deve se concentrar em questões bilaterais e investimentos.
Uma escalada violenta em Gaza seria frustrante para Trump, um lembrete claro de que ele não conseguiu entregar a paz que prometeu.
No entanto, é possível que Trump tenha perdido a paciência e receba com satisfação o discurso em Israel de infligir um golpe final e esmagador contra o Hamas, confiando nas palavras de Netanyahu e seus oficiais militares, para quem estes seriam “os movimentos finais” da guerra.

Trump também pode ter uma alta tolerância ao uso de força pesada por parte de Israel. Ele advertiu o Hamas de que “liberariam o inferno” se o grupo não libertasse os reféns restantes.
Michael Makovsky, presidente e executivo-chefe do Jewish Institute for National Security of America, concordou que Trump estava menos envolvido com Israel na questão de Gaza do que o governo Biden.
O presidente Joe Biden e suas principais autoridades aram muito tempo após os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023 tentando gerenciar a campanha de Israel em Gaza. Seu objetivo era limitar o sofrimento dos civis e salvar Israel da condenação internacional, mesmo que os críticos os considerassem tolerantes demais com o uso da força.
Trump demonstrou um pouco de preocupação com a população de Gaza e disse na segunda-feira que ajudaria os habitantes de Gaza a “conseguir comida” em meio ao bloqueio israelense.

Mas sua atenção ao conflito tem sido esporádica. “A diferença é como da noite para o dia em relação ao governo Biden, que estava tentando microgerenciar as operações de Israel”, disse Makovsky.
As autoridades israelenses não estão “recebendo ligações telefônicas”, disse ele. “Não acho que eles estejam sendo pressionados sobre quantos caminhões de ajuda estão chegando”.
Segundo Makovsky, no que diz respeito ao Oriente Médio, Trump tem se concentrado mais na diplomacia que visa impedir o Irã de desenvolver uma bomba nuclear.
Israel quer um acordo parcial que envolva a libertação de oito a dez reféns em troca de um cessar-fogo de 45 a 60 dias. O Hamas exige um acordo abrangente para encerrar a guerra e libertar todos os 59 reféns restantes. Todas as tentativas de superar essa lacuna fracassaram, e o foco da Casa Branca mudou para a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e as negociações nucleares com o Irã.

Em uma declaração na segunda-feira, Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse que Trump “continua comprometido em garantir a libertação imediata dos reféns e o fim do domínio do Hamas em Gaza”. Ele acrescentou que “o Hamas é o único responsável por esse conflito e pela retomada das hostilidades”.
Um sinal da mudança de foco é o portfólio do enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Nos primeiros dias da presidência de Trump, Witkoff se dedicou à diplomacia entre Israel e o Hamas para estender o acordo de cessar-fogo temporário alcançado em 15 de janeiro.
Mas, desde então, Witkoff se tornou uma espécie de super enviado itinerante que faz malabarismos com muitas missões. O ex-magnata do setor imobiliário e amigo de longa data de Trump também assumiu o caso do Irã e se reuniu com o presidente Vladimir Putin da Rússia quatro vezes para discutir a Ucrânia.

Há poucos indícios de que o Secretário de Estado Marco Rubio tenha entrado em cena. Rubio, a quem Trump na semana ada também deu o cargo de conselheiro de segurança nacional, ainda não visitou Israel.
Destruição em massa
O plano que Israel aprovou no domingo, com o codinome “Carruagens de Gideão”, tem como objetivo “derrotar completamente o Hamas”, segundo autoridades israelenses.
De acordo com o plano, as FDI invadiriam Gaza com quatro ou cinco divisões blindadas e de infantaria e gradualmente ocupariam e manteriam a maior parte da faixa.
Relembre
O ministro das finanças ultranacionalista de Israel, Betzalel Smotrich, disse na segunda-feira que a ocupação seria permanente e que a IDF não recuaria nem mesmo em troca da libertação dos reféns. Um oficial da defesa israelense disse que a ocupação permanente é apenas uma “aspiração”.
Ao ocupar partes de Gaza, o Exército arrasará todos os edifícios e trabalhará na destruição das redes de túneis, como fez anteriormente em Rafah e no norte da Faixa de Gaza.

As FDI estão planejando deslocar cerca de 2 milhões de palestinos para a área de Rafah, onde estão sendo construídos complexos para a entrega de ajuda humanitária.
A alternativa para permanecer na zona humanitária é que os palestinos deixem a região “voluntariamente” para outros países. Essas saídas dificilmente poderiam ser consideradas voluntárias, e nenhum país concordou até agora em aceitar os palestinos deslocados. As autoridades israelenses afirmam que há negociações em andamento com vários países nesse sentido.
De acordo com o plano, todos os palestinos que entrarem na área humanitária arão por uma triagem para garantir que não estejam armados e não sejam membros do Hamas.
Os complexos devem ser istrados por uma nova fundação internacional e por empresas privadas dos EUA, embora não esteja claro como o plano funcionará depois que a ONU e todas as organizações de ajuda humanitária anunciaram que não participarão. / NYT, W.P. e AP