O conselheiro diplomático do presidente russo Vladimir Putin, Yuri Ushakov, disse nesta quinta-feira, 13, que a ideia proposta pelos Estados Unidos de implementar uma trégua de 30 dias na Ucrânia não é a mais adequada para a paz duradoura. Ele espera abordar o plano com uma delegação americana, que chega nesta quinta a Moscou.
Ushakov disse à imprensa estatal russa que o cessar-fogo sugerido pelos EUA e apoiado pela Ucrânia é uma iniciativa “apressada, que não favorece uma solução de longo prazo”. O conselheiro ressalvou que essa avaliação é pessoal e que Putin expressaria “avaliações mais específicas e significativas” em breve.
Ainda de acordo com Ushakov, que está na equipe de negociação da Rússia com os EUA, a oposição ao plano foi exposta ao conselheiro de segurança nacional dos EUA, Michael Waltz, em um telefonema.

“O cessar-fogo temporário proposto na Ucrânia não é nada mais do que um alívio para os militares ucranianos”, disse Ushakov na televisão estatal. “A Rússia busca um acordo de paz de longo prazo na Ucrânia que atenda aos interesses e preocupações de Moscou. os que imitam ações pacíficas não servem para ninguém.”
A oposição de Moscou pode frustrar as expectativas do presidente Donald Trump de chegar a um acordo rápido de paz para a Ucrânia, algo que ele promete desde a sua campanha eleitoral.
A posição expressa pelo conselheiro está em linha com declarações adas de Putin. Em janeiro, em uma reunião do Conselho de Segurança, Putin disse que o objetivo do acordo deveria ser “não uma trégua curta, não algum tipo de trégua para reagrupar forças e rearmamento com o objetivo de subsequentemente continuar o conflito, mas uma paz de longo prazo”.
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Nesta quinta-feira, o presidente russo apareceu usando uniforme camuflado para falar sobre os avanços russos contra as forças ucranianas na região de Kursk, na Rússia. Ele pediu que as forças continuem em luta, expulsem os ucranianos do território e avancem para criar um corredor de segurança dentro da Ucrânia.
A mensagem foi recebida pelos americanos como um sinal de que Putin está disposto a continuar a luta. Se ele rejeitar o cessar-fogo, os combates continuariam em paralelo às negociações e centenas ou milhares de vida seriam perdidas.
Isso também permitiria que a Rússia continuasse tentando capturar mais território e o lento avanço no leste da Ucrânia.
Condições exigidas
Analistas russos preveem que o Kremlin pode exigir condições duras se concordar com o acordo de cessar-fogo, como a interrupção da ajuda militar dos EUA à Ucrânia durante a trégua. Essa condição seria difícil para Kiev aceitar — e, se endossada por Washington, poderia mais uma vez expor o governo Trump a críticas de uma abordagem desequilibrada a favor de Putin.
Nas vésperas do encontro com a delegação americana nesta quinta-feira, liderada pelo enviado especial dos EUA a Rússia, Stephen Witkoff, a Rússia aumenta os esforços para expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, a fim de tirar de Kiev uma moeda que poderia ser utilizada nas negociações.
O general russo Valeri Gerasimov, chefe do Estado-maior das forças armadas da Rússia, disse que a operação para expulsar as forças inimigas está no “estágio final”.
Em paralelo, um comandante ucraniano de drones que luta em Kursk desde agosto disse que a brigada está “se retirando gradualmente” da região. Ele informou que as tropas estavam mantendo partes de Sudzha, uma das cidades de Kursk ocupada pela Ucrânia, para dar tempo para outras unidades se retirarem.
O chefe do exército da Ucrânia, o general Oleksandr Sirski, disse nesta quarta que as operações de combate continuarão na região de Kursk, mesmo com avanço da ofensiva russa.
Negociações
Witkoff, o enviado de Trump à Rússia, encontrou com Putin no mês ado e negociou um acordo para a libertação do professor americano Marc Fogel. O acordo preparou o cenário para as negociações entre Rússia e EUA que aconteceram em Riad e Istambul.
Na ocasião, Witkoff declarou que a amizade entre Trump e Putin permitia as negociações.
Os termos da Rússia para um acordo de paz até agora incluem a exclusão da Ucrânia da Otan, o reconhecimento da anexação de terras ucranianas pela Rússia como legítima e a desmilitarização da Ucrânia, o que a deixaria com um exército incapaz de dissuadir novos ataques.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, descartou nesta quinta-feira que exista qualquer chance da Rússia ceder qualquer parte da terra anexada, insistindo que elas fazem parte do território russo que nunca poderão ser devolvidas. “Crimeia, Sevastopol, Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk, Luhansk — essas são regiões da Rússia. Elas estão escritas na constituição. Isso é um fato dado”, disse.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, também descartou nesta quinta a presença de quaisquer forças de paz estrangeiras na Ucrânia — um plano que está sendo considerado por nações europeias como garantia de segurança para qualquer acordo futuro.
“A Rússia não aceita a implantação de forças armadas de outros países na Ucrânia”, disse. Se isso ocorresse, “Moscou reagiria com todos os meios.” /Com AFP e W.P.