Depois de tentar, sem sucesso, dobrar a Universidade Harvard a seus desmandos pela via da constrição financeira, o presidente dos EUA, Donald Trump, retomou a ofensiva contra a prestigiosa instituição atacando sua alma: a abertura de Harvard para as melhores cabeças do mundo. No dia 22 ado, Trump revogou o certificado que permitia a matrícula de alunos estrangeiros naquela universidade.
A prevalecer a sanha persecutória de Trump, ora interrompida por decisão de uma juíza federal, Harvard não apenas ficará impedida de matricular cidadãos estrangeiros, como aqueles que já estão matriculados em seus cursos terão de ser transferidos para outras universidades, sob pena de se tornarem ilegais nos EUA.
De acordo com o site ShunStudents, no último ano letivo quase 6,8 mil estudantes de Harvard eram estrangeiros, o que representa cerca de 30% dos alunos da universidade. Mais de 300 brasileiros, entre alunos e pesquisadores, encontram-se atualmente em Harvard. Todos em sobressalto pelo clima de incerteza instalado pelo governo federal.
Ao Estadão, o brasileiro Eduardo Vasconcelos, estudante de Economia e Governo na universidade norte-americana, afirmou que a medida de Trump é a destruição de um sonho e que, de um dia para o outro, tornou-se um “despejo” nos EUA. Com medo, outros alunos estrangeiros preferiram não se manifestar.
Não é de hoje que Trump ataca universidades, acusando-as, generalizadamente, de serem bastiões do antissemitismo ou de serem laboratórios de infiltração dos interesses chineses. Ainda que isso fosse verdade, fechar as portas aos estrangeiros é mais que uma medida estúpida, é um presente para autocracias como a China e a Rússia, decerto dispostas a atrair os excelentes alunos de Harvard para suas universidades.
Nações europeias, como a França, também lançaram programas para tentar abraçar os pesquisadores estrangeiros baseados nos EUA que Trump quer repelir, tratando-os como descartáveis.
O republicano tentou sufocar as universidades financeiramente, Harvard em particular. Em abril, o Departamento de Educação congelou bilhões de dólares em financiamento para centros universitários de excelência que, segundo a Casa Branca, violam diretos civis. Algumas universidades cederam à pressão, mas Harvard, que dispõe de um endowment (fundo patrimonial) de mais de US$ 50 bilhões, não renunciou à sua independência acadêmica.
Agora, Trump volta à carga ameaçando os alunos estrangeiros de Harvard, os que criam soluções e inovações para os EUA e o mundo. A universidade classificou a medida de Trump de “inconstitucional” e acionou a Justiça, obtendo a suspensão temporária do banimento de estudantes de outros países.
Ao tentar transformar centros de excelência como Harvard em instrumentos de sua política xenófoba e anti-intelectual, a um só tempo, Trump fere valores fundamentais da democracia norte-americana e compromete o papel de liderança global que os EUA historicamente exerceram nas áreas de educação e ciência. Que a sociedade e as instituições dos EUA sejam firmes para conter mais esse ataque à razão.