Resultado de um consórcio entre seis empresas dos setores bancário, de alimentos, mineração e papel e celulose, a Biomas, especializada em restauro florestal, foi criada em 2022, durante a 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), no Egito. Agora, mais de dois anos depois e às vésperas da COP-30, em Belém (PA), acaba de anunciar seu primeiro grande projeto, para reflorestar 1,2 mil hectares de Mata Atlântica no sul da Bahia, investimento de R$ 55 milhões, com plantio de 2 milhões de mudas.
Ao Estadão, o CEO da Biomas, Fabio Sakamoto, situou entre US$ 15 milhões (R$ 85 milhões) e US$ 35 milhões (R$ 198 milhões) a receita estimada com a venda de créditos de carbono “” do projeto, que utilizará terrenos de propriedade da indústria de celulose Veracel. Se confirmada a projeção de retorno a longo prazo, restará comprovado que iniciativas de combate às mudanças climáticas, mais do que um sinal de conscientização ambiental, podem ser um bom negócio.
O otimismo do executivo pode se justificar pelo fato de que o mercado global de créditos de carbono, apenas em 2021, atingiu a marca de US$ 1 bilhão e ainda está em fase de evolução. No Brasil, contudo, foi somente em dezembro do ano ado que a lei que instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) foi sancionada, e ainda tem um longo caminho até a conclusão do marco regulatório.
O Brasil é frequentemente citado por especialistas por seu grande potencial de liderança em descarbonização da economia, portanto é essencial aproveitar a janela de oportunidades aberta pela adoção das práticas ESG (sigla para critérios ambiental, social e de governança), ainda que ela ameace se estreitar, diante da resistência do presidente dos EUA, Donald Trump, ao que ele define como “capitalismo woke” – termo usado aqui para criticar a influência de minorias sexuais e raciais no estabelecimento de políticas públicas e privadas. A crise climática, contudo, não é uma abstração ideológica, mas uma realidade que se impõe ao mundo.
A parceria que permitiu a criação da Biomas reúne Itaú Unibanco, Marfrig, Rabobank, Santander, Suzano e Vale, que apostaram num modelo de geração de créditos de carbono em que áreas degradadas são restauradas por meio do plantio de mudas nativas. No sul da Bahia, serão plantadas 70 espécies de árvores, em trechos fragmentados de uma área desmatada a partir dos anos 1970. A expectativa é de que a primeira safra de créditos seja vendida em 2029 e dividida entre a Biomas e a Veracel.
Projetos como a restauração de parte da Mata Atlântica são um importante cartão de visitas para o Brasil, que irá sediar a conferência da ONU para o clima. Mostram que a sociedade civil está interessada em participar ativamente do esforço para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Quando grandes empresas decidem se juntar para atuar nessa área crucial, é sinal de que, felizmente, a consciência ambiental não foi totalmente obstruída pela guerra ideológica que opõe esquerda e direita e que acelera a marcha da insensatez climática.