Quando você pensa em acepipes, que imagem vem à sua cabeça? Pelo dicionário, acepipe seria “um prato delicado, em geral servido como entrada, usado para abrir o apetite; um aperitivo ou petisco”. Por extensão, também seria uma palavra utilizada para se referir a qualquer comida bem preparada e apetitosa. Então quer dizer que acepipe pode ser… qualquer coisa? Mais ou menos.
Na prática, especialmente quando falamos da comida dos bares, acepipe tem sabor de história. Mais do que definições formais, a palavra evoca as vitrines e balcões cheios de pequenos beliscos sedentos por uma cerveja gelada como parceira. Representantes máximos da gastronomia do boteco raiz, pode-se enxergar neles certo anacronismo culinário, mas para muitos aficionados, os acepipes respiram tradição, com comidinhas que remetem a tempos ados.
Quando falamos em acepipes, então, estamos na maioria das vezes falando dos quitutes presentes nas vitrines, estufas e balcões dos bares, sobretudo das porções servidas frias.
O dicionário também dá pistas sobre uma das possíveis gêneses dos acepipes nos bares brasileiros. Na etimologia, a palavra tem origens no idioma árabe e espanhol, e, segundo Luiz Eduardo Fernandes, sócio do Bar do Luiz Fernandes, os acepipes têm forte relação com as tapas espanholas.

“Nossa história com os acepipes começou com meus avós.” Edu conta que na época em que a antiga mercearia se transformou em bar, o casal formado por uma portuguesa e um espanhol trouxe as influências europeias para a casa.
“Eles já tinham essa bagagem das tapas, pinchos e esses quitutes diferentes no balcão. Então minha avó começou a colocar os pratinhos para as pessoas irem se servindo, e pouco a pouco a nossa estufa de acepipes foi se formando.”
Apresentando-se de formas variadas entre as regiões da Espanha, podemos definir as “tapas” como as comidas de boteco de lá: incluindo aperitivos, bolinhos, frituras, frutos do mar, conservas, pastinhas, peças de charcutaria, servidas tradicionalmente em pequenos pratos de cerâmica.
“A graça é ter coisas ‘exóticas’, que você não encontra mais com tanta frequência no cenário dos bares e botecos. Você vai no bar pra comer mussarela de búfala? Tomate seco? Eu até tenho aí para um ou outro desavisado, mas o legal do balcão de acepipes são essas coisas diferentes”, defende Fernandes.
“Os roll mops, são uma das coisas mais pitorescas que a gente tem por aqui.” Para quem não conhece, trata-se de um filé de sardinha envolvendo um pouco de cebola branca, que juntos ficam curtindo na salmoura, unidos por um palito antes de serem exibidos na vitrine do bar.

Edu recomenda explorar as porções de fígado, jiló em conserva, orelha e pé de porco à vinagrete, moela e outros itens queridinhos do balcão. Ele também destaca a curadoria e escolha de ingredientes de qualidade, que ajudam a compor as opções com itens que não são feitos na casa artesanalmente.
Hoje, o bar serve cerca de 60 opções de acepipes. “Foi algo que nasceu junto com o bar, e é que a gente tenta manter vivo. Faz parte do contexto de boteco e contribui com a experiência do balcão pedir uma cervejinha, uma batidinha e ir beliscando junto.”

Os acepipes do Bar do Luiz Fernandes saem por unidade dos itens selecionados no balcão, e vão de R$ 2 a R$ 13, servidos em uma porção que será devidamente fatiada e temperada antes de servir.
“Eu carrego essa bandeira, que o boteco de verdade tem que ter alma. O maior valor que a gente tem é a nossa história”, adiciona.
Onde: Rua Augusto Tolle, 610, Mandaqui. Instagram: @bardoluizf.
Outros lugares para comer acepipes
Além do Bar do Luiz Fernandes, há outros lugares em que você pode encontrar boas opções de acepipes. Longe de ser um guia definitivo, damos aqui apenas um norte para começar a explorar alguns dos bons endereços em SP para comer essas iguarias.
Bar do Luiz Nozoie

O bar que leva o nome do saudoso Sr. Luiz Nozoie (1931-2024) começou a servir os acepipes desde o início das atividades nos anos 60, época em que eram preparados por sua esposa, dona Shizue. Jiló recheado, roll mops, mariscos e frutos do mar frios são algumas das opções dos tira-gostos, ao lado das rãs fritas e bolinhos de milho, especialidades da casa.
Onde: Av. do Cursino, 1210, Bosque da Saúde. Instagram: @bardoluiznozoie.
Jabuti
Uma dica para quem gosta de sabores do mar: também em sua sexta década de funcionamento, o bar Jabuti Frutos do Mar, na Vila Mariana, apresenta uma boa variedade de mariscos, lula, peixes, ostras, mexihões, polvos e outras delícias do oceano para curtir entre goles de cerveja.
Onde: Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1315, Vila Mariana. Instagram: @jabutifrutosdomar.
Izakaya Kintaro

Com certa liberdade poética e com consciência de que as referências estão mais próximas da culinária dos bares japoneses, o Kintaro também serve uma variedade legal de itens que se aproximam da alma “raiz” dos bares.
Os bons acepipes da casa acompanham itens como os oniguiris, frutos do mar e a consagrada berinjela no missô, um dos carros-chefe do Kintaro. O pratinho com duas porções da estufa sai por R$ 17.
Onde: Rua Thomaz Gonzaga, 57, Liberdade. Instagram: @izakaya_kintaro.
Bagaceira
Com uma perspectiva mais contemporânea sobre universo dos acepipes, o bar Bagaceira tem um cardápio um tanto mais enxuto e à la carte, mas ainda com receitas artesanais, como os escabeches de berinjela, abobrinha e cogumelos com ricota (R$ 29), jiló (R$ 14), pimenta cambuci recheada (R$ 10) e até uma versão paulistana do “Sacanagem”, clássico dos botecos da Cidade Maravilhosa (R$ 6 a unidade).
Onde: R. Frederico Abranches, 197, Santa Cecília. Instagram: @barbagaceira.