A mineira Sthella Lima, 33 anos, formada em istração com ênfase em Ciências Contábeis, atuou quase 10 anos como auditora, mas decidiu trocar a carreira no mundo corporativo pelo mercado de bebidas alcoólicas. “Encontrei meu lugar, não voltaria atrás”, afirma.
Ela é a fundadora da Xá de Cana, marca mineira de drinques prontos à base de caldo de cana, limão e cachaça, vendidos em latas. Em três meses, a empresa vendeu mais de 200 mil unidades e tem planos de ampliar significativamente a produção ainda neste ano.
A história começou em 2021, quando Sthella, então gerente de auditoria de uma distribuidora de gás natural, morava em Vila Velha (ES) e sentia falta de opções de bebidas alcoólicas diferentes nas praias da região.

A primeira tentativa de empreender foi com uma bicicleta adaptada para vender caipirinhas na areia. “Montei uma bicicleta bonitinha, mas não deu certo. Durou um final de semana”, lembra.
Ainda assim, seguiu tentando. Começou a testar receitas de caipirinhas com caldo de cana em casa.
Um dos testes foi feito para um casamento, no qual produziu 24 litros da bebida. “Ali percebi que poderia ser algo maior. Resolvi investir para industrializar”, conta.
Ela contratou um laboratório para desenvolver a formulação final. O processo durou nove meses até a aprovação dos testes e um ano até a comercialização do produto.
Em 2023, com investimento inicial de R$ 50 mil, Sthella voltou para Belo Horizonte, onde mora sua família. Foi lá que a Xá de Cana ganhou forma.
A produção começou de forma enxuta. “Somos uma empresa bem pequena”. Em dezembro de 2023, saíram as primeiras 3 mil latas, vendidas em Belo Horizonte e na região metropolitana.
O caldo de cana, principal ingrediente da bebida, se mostrou promissor por permitir congelamento, o que facilita a logística e o aumento da escala.
A fabricação é terceirizada, com dois parceiros responsáveis pela produção e envase. A maioria dos insumos também é mineira. “Hoje, só a lata, o aroma e o suco de limão não vêm de Minas”, diz.
Xá de Cana estourou no Carnaval de 2024
A virada veio no Carnaval de 2024. Com 10 mil latas nas ruas, a marca ou a ser conhecida.
“Foi o momento em que explodimos em Minas. A partir disso, começamos a estudar mais o produto e como melhorá-lo”, afirma.
Mesmo com o sucesso, a empresa não tinha estrutura para atender toda a demanda. “Foi importante, mas também frustrante. Muita gente queria experimentar e não encontrava”, diz.
Ao longo de 2024, a média de produção mensal foi de 3 mil latas. Mas, com o crescimento da procura, a empresa se preparou para a ampliação.
Segundo Sthella, foi feito um investimento extra para aumentar a produção no período de Carnaval de 2025. Ela não divulgou o valor.
Nos três primeiros meses de 2025, a empresa vendeu 200 mil latas e hoje trabalha com uma produção mensal de cerca de 40 mil unidades. A meta é chegar a 55 mil latas por mês no segundo semestre.
“Há várias regiões procurando a gente para revender, mas estamos indo com muita calma. Demoramos para tomar decisões estratégicas”, diz.
Ela diz que outras bebidas de marcas pequenas surgidas em MG, como a Xeque Mate, ajudaram no bom desempenho. “Graças à Xeque Mate, conseguimos furar a bolha. A cena mineira de bebidas prontas tem ganhado visibilidade”, afirma.
Atualmente, a Xá de Cana está em mais de 200 pontos de venda, contra 25 em 2024. A venda online também cresceu: o e-commerce próprio já representa cerca de 5% das vendas.
Além de Minas Gerais, a marca começou a fechar com pontos de revenda em São Paulo a partir deste mês. “Isso é muito importante para a gente”, diz a fundadora.
Sobre o faturamento de 2024 e o estimado para 2025 a reportagem questionou, mas a empresa não divulgou.
Sthella afirma apenas que projeta um crescimento de 200% na receita até o fim do ano em comparação com o primeiro trimestre.
“Ainda estamos estruturando o planejamento para os próximos anos. Queremos crescer, mas com responsabilidade”, afirma.
Até o momento da apuração desta reportagem, a Xá de Cana não tinha avaliação de clientes nem no Google nem no site Reclame Aqui.
Como se destacar no mercado de bebidas alcoólicas?
O setor de bebidas alcoólicas está em expansão no Brasil e tem atraído cada vez mais empreendedores. Mas, para ter sucesso em um mercado com margens apertadas e alta competitividade, é preciso mais do que paixão pelo produto.
Para Vinicius Barreto, vice-presidente da vertical Scale Up no Ecossistema 300 Franchising, habilidades como gestão eficiente de custos, conhecimento técnico e estratégias de marketing são essenciais para quem quer se destacar.
“O setor de bebidas alcoólicas muitas vezes opera com margens bastante apertadas, por isso, é fundamental ser um gestor eficiente de custos e despesas para não comprometer a lucratividade do negócio”, afirma Barreto.
“Além disso, o conhecimento sobre o produto — seja vinho, cerveja artesanal ou destilados — é essencial para entender legislação, canais de distribuição e comportamento do consumidor."
Em um mercado competitivo como o de vinhos, destilados e cervejas artesanais, Barreto acredita que a diferenciação está na proposta de valor: “Marcas que se posicionam com propósito e constroem comunidade em torno do seu produto tendem a gerar mais engajamento e fidelização. Investir em experiências sensoriais exclusivas e narrativas autênticas faz toda a diferença”.
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Questionado sobre o que pesa mais para o sucesso — conhecimento técnico ou marketing —, Barreto destaca a importância do equilíbrio.
“O que realmente faz diferença, especialmente no início, é ter habilidade em vendas, bom relacionamento com o público e facilidade para gerar conexões. O marketing ajuda a contar a história da marca e a fortalecer o vínculo com o consumidor. Já o conhecimento técnico pode ser contratado de forma complementar”, explica.
Para ele, uma das tendências mais promissoras do setor está na experiência do cliente. “Degustações guiadas, rodízios temáticos e eventos sensoriais têm sido estratégias eficazes para engajar o público. A autenticidade e a valorização da produção local também ganham cada vez mais espaço”, diz.
Outra aposta é o uso de tecnologia para personalizar a jornada de consumo. “Ferramentas como clubes de , realidade aumentada em rótulos e plataformas de e-commerce com curadoria inteligente estão mudando a forma como as pessoas interagem com as marcas”, afirma. “É preciso unir inovação com propósito e experiência para se destacar neste mercado.”