
BRASÍLIA − O presidente nacional do PT, senador Humberto Costa (PT-PE), disse em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast que a resposta do governo à denúncia de fraudes em aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) será fundamental para melhorar a popularidade da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador afirmou que “muito provavelmente” o governo deve precisar colocar dinheiro próprio para ressarcir as vítimas dos descontos indevidos.
Costa confirmou que estão na mesa de discussão a edição de um crédito extraordinário, opção rechaçada pelo Ministério da Fazenda, ou o remanejamento de recursos no Orçamento da União como forma de bancar os reembolsos.
Uma ala do Palácio do Planalto vem defendendo que o governo faça o que for preciso para ressarcir os aposentados. “Essa é uma possibilidade (editar um crédito extraordinário). A outra possibilidade é (remanejar recursos) dentro do próprio Orçamento. Depende muito do tamanho (do ressarcimento)”, disse o senador.
Sobre a disputa pelas cadeiras do Senado em 2026, o senador disse que o PT está fazendo um levantamento sobre a situação em cada Estado, que deve ser apresentado ao presidente Lula até o fim do mês. Costa está no fim de seu mandato e será candidato a um novo mandato no Senado.
Questionado se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é cotado para a disputa em São Paulo, o presidente do PT disse que ele “é um bom nome”, mas que, em uma conversa recente entre eles, teve a impressão de que Lula não tinha conversado ainda com Haddad sobre o assunto.
O presidente do PT afirmou também que pretende convencer o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, a retirar sua candidatura à presidência do partido em favor do ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva. Também disse que, de olho em 2026, o PT quer ter o MDB em sua coligação. Outros partidos, como PSD e União Brasil, já são vistos como mais distantes, mas o PT pretende fazer com que eles liberem seus diretórios estaduais para apoiar quem quiserem.

A seguir, os principais trechos da entrevista:
Na opinião do senhor, qual efeito a crise do INSS terá para o governo?
Está tendo um efeito grande na sociedade. Depende muito do que o governo vai fazer, e está certo em garantir a devolução. Tem que ser rápido em saber o tamanho desse prejuízo que houve para os aposentados. Tem que ver se o dinheiro bloqueado das entidades é suficiente para fazer o ressarcimento. Se não for ou se a Justiça demorar para transferir para o governo, o que vai fazer? Pelo que vi, a tendência é que o governo bote dinheiro. No primeiro momento vai tentar usar tudo o que foi bloqueado pela Justiça. Não só os bens dos presos, mas das entidades. Tem dinheiro em conta bancária.
Mas fora os recursos dos bens, o governo teria de colocar dinheiro nessa equação?
Muito provavelmente.
E vai fazer como? Crédito extraordinário?
Essa é uma possibilidade. A outra possibilidade é (remanejar recursos) dentro do próprio Orçamento. Depende muito do tamanho.
Sobre 2026, como o senhor avalia o cenário eleitoral e a relação com os partidos de centro?
Vai depender muito de como estiver o governo. Se estiver bem, e eu acredito que vai estar em fevereiro ou março, acho que há uma possibilidade concreta de a candidatura do presidente atrair parte do centro e da centro-direita.
O fato de o União Brasil ter se unido em federação com PP afasta o partido dessa negociação?
O PP tem uma força no Nordeste e com muita proximidade com o Lula. Já o União sempre foi oposição muito mais forte. Quem segura mais a proximidade com o governo é Davi Alcolumbre (presidente do Senado e integrante do União Brasil). Acho que, com a federação, ficou um pouco mais distante. Acredito que, se o Lula estiver com candidatura forte, esses partidos vão liberar participação nos Estados.
O objetivo do PT é fazer com que esses partidos de centro não lancem candidatos e liberem nos Estados?
Não, no caso do MDB, nosso desejo é que componha a coligação. Eu acho difícil que o PSD esteja na coligação. O melhor é ter a liberação nos Estados. Até porque o PSD se fortaleceu mais na linha de direita e centro-direita, com a entrada do Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul).
O esforço maior então é para ter o MDB com Lula?
Sim, na coligação. Se vai ser na chapa ou não, não sei.
No caso do MDB, nosso desejo é que componha a coligação (de Lula). Eu acho difícil que o PSD esteja na coligação
Humberto Costa, presidente do PT
Como o PT está se preparando para a disputa ao Senado nos Estados em 2026?
Estamos reunindo o GTE (Grupo de Trabalho Eleitoral do PT). Estamos fazendo um diagnóstico da situação em cada Estado. Vamos organizar para conversar com o presidente (Lula). Imagino que até o final de maio devemos ter esse diagnóstico para mostrar a ele.
O nome do ministro Fernando Haddad é um dos cotados para disputar em São Paulo?
É um bom nome, né.
Mas tem conversa concreta?
Estive com ele e me pareceu que o presidente não tinha conversado com ele.
Como o senhor vê o cenário de disputa interna pela presidência do PT?
O processo está caminhando bem. Apesar de a inscrição das chapas ser até dia 19 (de maio), até o dia 26 é possível fazer fusão de chapas, renúncia de candidatos em apoio a outro. Acho que a CNB (corrente majoritária do PT) conseguiu ter uma parcela muito importante ao lado do Edinho Silva (ex-prefeito de Araraquara). Nossa tarefa agora é garantir que tenha uma candidatura só (na CNB). Significa ter um diálogo com o Washington Quaquá para ver se é possível esse entendimento. Estou animado. Acredito que será possível. (CNB é a corrente majoritária do PT, que tem mantido o comando do partido nas últimas décadas. É o campo ao qual pertencem Lula, Gleisi Hoffmann, José Dirceu, Edinho Silva, Humberto Costa, Washington Quaquá, entre outros políticos).
Por que Quaquá está lançando candidatura?
É difícil saber. Ele tem posições muito instáveis. Sempre querendo marcar posição. Talvez ele esteja querendo dar uma demonstração de força. Só vamos saber quando conversarmos com ele e vermos o que ele vai dizer sobre isso.
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A tensão que existia entre o grupo de Edinho e da ministra Gleisi foi resolvida?
Sim, foi equacionado.
Foi resolvido com a ida da Gleisi para a Secretaria de Relações Institucionais?
Não, ainda ficou uma tensão por um tempo. Mas fomos conversando. Ficou claro que Edinho era o candidato que o presidente (Lula) queria, e isso tem muita força. Não por subserviência do partido, mas é difícil explicar um presidente do partido que não tenha a porta aberta o tempo inteiro da Presidência da República. Até por uma questão de lógica, é necessário, para o partido, que a pessoa na presidência (da sigla) goze da confiança total do presidente Lula. Isso tem um peso. Muita gente que talvez quisesse apresentar um nome não vai dar porque no final das contas vai prevalecer a opinião do Lula.
O senhor conversou com Lula ou com Gleisi sobre mudanças nos ministérios?
Não. Ninguém sabe o que vai acontecer. Todo mundo diz que o que ele vai fazer está na cabeça dele.
O Ministério das Mulheres não poderia ter sido usado para uma mudança maior para abrigar o Centrão?
Acho que ele terminou fazendo uma opção de ordem política e gestão. Ele não deve ter deixado de simular com os partidos a importância do Ministério da Ciência e Tecnologia (ocupado por Luciana Santos, que era cotada para o Ministério das Mulheres). Ou ele viu que ia dar muita confusão, ou viu que eles (do Centrão) querem aqueles ministérios com mais visibilidade. Podia desarrumar mais que arrumar. E então acabou fazendo uma mudança mais doméstica.