O Progressistas (PP) quer dar estrutura e apoio político para que o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, torne-se referência política no debate sobre o combate à criminalidade no País. O diagnóstico do partido é que o tema superou saúde e educação como principal preocupação da sociedade, cenário no qual Derrite teria condições de canalizar a aflição dos eleitores em votos e se eleger senador em 2026 com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Derrite estava no PL e acertou o retorno ao PP. A filiação seria oficializada em evento nesta quinta-feira, 8, mas foi adiada para o próximo dia 22 para que Tarcísio e todos os 49 deputados federais da sigla compareçam. O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP) estará presente. Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab, presidentes do PL e do PSD, respectivamente, também foram convidados.
“Tudo nessa área que couber ao partido é ele que vai conduzir. O protagonismo total é dele”, disse Ciro Nogueira, presidente do PP, ao Estadão.

A sigla planeja utilizar a Fundação Francisco Dornelles para promover fóruns de segurança pública, sempre com destaque para o secretário. A ideia é realizar um evento de âmbito nacional em outubro ou novembro, além de encontros regionais em São Paulo para consolidar a candidatura de Derrite.
O deputado federal Maurício Neves (PP), presidente do partido em São Paulo, disse ter sugerido ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que Derrite conduza as discussões sobre endurecimento do sistema de justiça criminal. Derrite poderia até deixar a secretaria pontualmente para discutir os assuntos na Câmara, já que é deputado federal eleito. Ele fez isso, por exemplo, para relatar o projeto que restringiu a saidinha de presos no ano ado.
A expectativa do partido é que projetos sobre o tema avancem quando o ime sobre a anistia aos presos pelo 8 de Janeiro chegar ao fim. Motta e Derrite estiveram juntos em um jantar de apoio à eleição do paraibano para o comando da Casa em janeiro.
A avaliação de Neves é que a chance de resultados concretos aumentam com Derrite à frente dos trabalhos, em contraposição a deputados considerados mais extremistas que defendem pautas que não têm chance de avançar, mas repercutem nas redes sociais, como a instituição da pena de morte ou da prisão perpétua.
“O Derrite, além de conseguir avanços importantes, pode se consolidar como um líder a nível nacional no debate sobre a segurança pública”, disse Neves. Ele nega que o secretário seja extremista ou radical, como afirmam os críticos. “Só quem fala isso é quem não teve a oportunidade de sentar numa mesa com ele e conversar”, acrescentou.
Neves considera que Derrite tem chances reais de vencer a eleição para senador e acredita que o secretário estará na briga para ser o candidato de Tarcísio ao governo de São Paulo em 2030. Nos bastidores, Derrite afirma que seu foco em 2026 é o Senado e não tem interesse em disputar a sucessão do governador caso ele saia candidato à Presidência da República no ano que vem.
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No ano ado, o chefe da pasta da Segurança Pública deixou temporariamente o cargo para assumir o mandato na Câmara e atuar como relator do projeto que acabou com as saídas temporárias de presos em datas comemorativas — o texto manteve a possibilidade dos presos de baixa periculosidade saírem para estudar ou trabalhar.
Derrite disse a interlocutores nos últimos meses que quer ajudar tecnicamente na construção de uma “ampla reforma do sistema de justiça criminal”, que a pelo endurecimento da legislação sobre audiência de custódia, progressão de regime e reincidência criminal.
A batalha por protagonismo, no entanto, será árdua: governadores do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) com ambições presidenciais, como Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União) e Eduardo Leite (PSDB), defendem propostas similares, assim como outros deputados e senadores que exercem mandato de forma permanente.
A eleição para o Senado terá duas vagas. O acordo é que Bolsonaro e Tarcísio dividam as indicações. O nome do ex-presidente será o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), enquanto pessoas próximas a Derrite afirmam que ele terá o apoio do governador para a empreitada eleitoral.
Levantamento Paraná Pesquisas divulgado na terça-feira, 6, aponta que Eduardo tem 36,5% das intenções de voto para senador, seguido do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), com 32,3%. Derrite surge em terceiro, com 23,3%. No segundo cenário testado, o filho do ex-presidente tem 36,5%, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), 34,6% e Derrite 23,6%. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuais.
“A força do Bolsonaro e do Tarcísio em São Paulo é muito grande. Não tenha dúvida que dá para eleger o Derrite e o Eduardo para o Senado. Penso que uma eleição certa é essa deles”, acrescentou.
Tarcísio deu respaldo a Derrite no momento de crise mais aguda. Ele manteve o secretário no cargo no final do ano ado após pressão para demiti-lo em meio a uma série de casos de violência e abuso policial. Uma das justificativas do governador foi a queda nos índices de criminalidade: sob Derrite, São Paulo registrou em 2024 o menor patamar de roubos e homicídios desde o início da série histórica, em 2001.
Por outro lado, as mortes cometidas por policiais militares cresceram 84,14% no ano ado na comparação com 2023. Com 34% a segurança pública é a área da gestão Tarcísio que tem a pior avaliação entre os paulistas, de acordo com pesquisa Genial/Quaest publicada em fevereiro.
Na avaliação de Ciro Nogueira, os episódios de violência policial no ano ado desgastaram Derrite somente na imprensa. “Com base nas pesquisas que a gente tem, a população aprovou ele completamente. Ela apoia, radicalmente, medidas mais duras”, disse o presidente do PP.
Antes de assumir como secretário, Derrite se notabilizou por declarações polêmicas. Ele já disse que deixou a Rota, batalhão de choque da Polícia Militar, porque matou “muito ladrão” e foi “convidado a se retirar”. Também declarou que é “vergonhoso” um policial ter menos de três ocorrências de homicídio no currículo. Ele manteve o estilo linha-dura ao assumir a secretaria, mas foi aconselhado por Tarcísio a fugir de polêmicas e buscar uma postura técnica no comando da pasta.
A filiação de Derrite ao PP é tratada como uma volta para casa. Ele ingressou na política ao se eleger deputado federal pelo partido em 2018. Quatro anos depois, a legenda decidiu apoiar o então governador Rodrigo Garcia para governador, o que levou Derrite a se filiar ao PL para apoiar a candidatura de Tarcísio.
O secretário de Segurança Pública não perderá o mandato na Câmara dos Deputados, do qual está licenciado, porque teve a anuência de Bolsonaro e Valdemar para deixar o PL.