
BRASÍLIA - A revisão de subsídios para combustíveis fósseis e a definição de estratégias para financiamento estão entre as prioridades do governo do Reino Unido na 30.ª Conferência do Clima da ONU (COP-30), que ocorrerá em Belém, em novembro.
Em visita ao Brasil para participar de reuniões com autoridades brasileiras sobre temas que serão debatidos na conferência, a representante de clima do Reino Unido, Rachel Kyte, falou ao Estadão sobre a necessidade de retirar subsídios excessivos a combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, garantir o o da população à energia.
“A energia renovável é mais barata, mas estamos operando em uma economia onde os combustíveis fósseis estão sendo subsidiados em um nível extraordinário”, argumenta.
Para presidente da COP-30, China faz 'mais do que declara' e produz soluções tecnológicas relevantes
Kyte falou sobre a expectativa de que os países acordem planos para redução do uso de combustíveis fósseis, como acordado na COP-28, em Dubai, e um roteiro para alcançar a meta de financiamento climático. Na COP-29, em Baku, os países acordaram US$ 300 bilhões para o financiamento climático, mas a estimativa é de que sejam necessários US$ 1,3 trilhão.
“A comunidade internacional se sente segura nas mãos do Brasil”, disse ela em relação à realização do evento e obtenção de resultados determinantes para o futuro do planeta.
Kyte falou sobre o protagonismo da China e de outros países emergentes nas discussões climáticas e minimizou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris: “Independentemente de os Estados Unidos estarem saindo ou permanecendo, o mundo é um lugar onde nosso sucesso coletivo depende do crescimento da China, Índia, Brasil, Indonésia”, disse.
O Reino Unido é líder nas discussões climáticas e uma das primeiras grandes economias a fixar a meta de zerar emissões de gases do efeito estufa até 2050. O país representa uma fatia de 0,72% das emissões globais.
Além disso, o Reino Unido é o terceiro maior investidor no Brasil na área de clima, com uma soma total de cerca de 625 milhões de libras em áreas como florestas, energia, agricultura, entre outras.
A COP-30 é crucial por rever as metas estabelecidas há dez anos no âmbito do Acordo de Paris. A expectativa é que os países definam “como” fazer tudo o que foi acordado nas conferências anteriores. Dessa forma, a próxima década tem sido chamada de “década da implementação”.
Veja os principais pontos da entrevista:
Quais são as metas do Reino Unido para a COP-30?
Primeiro, que esta seja uma conferência climática com a participação plena dos países, do setor privado, da sociedade civil. E que a expertise do Brasil em sediar grandes fóruns e conferências sobre desenvolvimento sustentável desde 1992 nos ajude a ter uma conversa global democrática e transparente.
Depois, esta é uma oportunidade real de falar sobre a natureza e como financiá-la. Não podemos ser resilientes, como humanidade, se a natureza não estiver lá para nos proteger. Obviamente, o Brasil é o país mais importante do mundo do ponto de vista da natureza. Então, esta deve ser a COP em que começamos a falar seriamente sobre como proteger a natureza. E parte disso envolve financiamento: como financiamos florestas tropicais em pé, mercados de carbono, o TFFF (Fundo Florestas Tropicais Para Sempre, na sigla em inglês), entre outros mecanismos.
Em segundo lugar, é muito importante continuarmos a discutir o que é necessário para nos afastarmos dos combustíveis fósseis. Os combustíveis fósseis ainda farão parte da matriz energética, mas estamos em um ponto de inflexão — eles serão cada vez menos (utilizados). Já concordamos com isso, essa é uma linguagem já acordada, mas nesta COP precisamos avançar em como vamos fazer isso.
Em terceiro lugar, eu diria que é o financiamento de forma mais ampla. Já concordamos, novamente, que teremos um roteiro para transformar recursos públicos em mais investimento privado, tanto para mitigação, ou seja, redução de emissões, quanto para resiliência.
Queremos sair da COP 30 com clareza sobre como estamos colaborando nas ações já acordadas, como estamos colocando a natureza e o financiamento da natureza no centro da discussão, e como pensamos esse roteiro para financiar toda a ação climática ao longo da próxima década de implementação que o Brasil está lançando.
Se conseguirmos avançar nessas três frentes e tivermos uma COP onde todos possam ser ouvidos, ficaremos satisfeitos.
Qual sua opinião sobre o Fundo Florestas para Sempre?
Acho que o conceito é bom. A ideia não é nova, mas acredito que o fato de o Brasil estar avançando, trabalhando nesse conceito e depois dialogando com a comunidade de investidores ao redor do mundo é algo necessário.
Poucos países poderiam fazer isso, e o Brasil pode, por causa de seu papel global como guardião da Amazônia e de outros biomas, por causa do tamanho do país e de sua posição no cenário internacional. É o país que poderia realmente levar essa ideia adiante.
Agora há muito trabalho a ser feito até a COP-30, mas estamos otimistas de que os brasileiros conseguirão apresentar algo à comunidade internacional que ela queira investir. Entendemos a importância disso e estamos aqui para ajudar.
Os US$ 300 bilhões acordados na COP-29 para o financiamento climático não são suficientes. O Reino Unido pretende aumentar suas contribuições?
Os US$ 300 bilhões representam um compromisso de recursos públicos, e esse dinheiro público precisa ser usado para atrair ou alavancar recursos do setor privado.
Agora, esse financiamento público vem de forma bilateral — de países como o Reino Unido, que têm essa obrigação — e também de forma multilateral, já que somos um dos maiores acionistas dos bancos multilaterais de desenvolvimento. Também somos um dos maiores contribuintes para os fundos climáticos multilaterais, como o Fundo Verde para o Clima.
Vamos manter nossa contribuição para esses US$ 300 bilhões, mas o que precisamos é fazer com que cada libra atraia mais financiamento do setor privado. É assim que se chega aos US$ 1,3 trilhão. Mas precisamos que outros países façam o mesmo.
Além disso, precisamos estimular novas fontes de receita, como os mercados de carbono.
Também estamos analisando, junto com muitos outros países, formas de introduzir novas taxas sobre a poluição. E a receita gerada por essas taxas pode ser direcionada para o financiamento climático.
De que forma isso seria feito?
Por exemplo, estamos apoiando uma taxa sobre combustíveis marítimos. O combustível de navio — conhecido como bunker fuel — é altamente poluente. Estamos apoiando as negociações na Organização Marítima Internacional, e o Brasil também está participando. A ideia é simples: você aplica uma taxa sobre esses combustíveis marítimos, e essa receita pode ser usada tanto para tornar a indústria naval mais limpa, quanto, eventualmente, para contribuir com fundos climáticos.
Ou seja, precisamos fazer os US$ 300 bilhões crescerem para US$ 1,3 trilhão. E temos muita experiência em como atrair capital privado.
De que forma esse capital pode ser atraído?
Por exemplo, participamos de uma iniciativa com o Fundo de Investimento Climático (Climate Investment Fund), que é um dos fundos multilaterais climáticos. Pegamos uma parte do portfólio desse fundo, estruturamos um título financeiro (bond) com base nesse portfólio e listamos esse título na Bolsa de Valores de Londres. O título teve uma demanda seis vezes maior que a oferta (oversubscribed) e, basicamente, gerou US$ 7 bilhões, que podem ser reinvestidos pelo Fundo de Investimento Climático.
Ou seja, você pega uma libra, mistura com dinheiro americano, francês e alemão, investe isso por meio de um fundo climático multilateral, transforma esse investimento em um portfólio, leva à bolsa de valores e, de repente, você tem 7 bilhões de dólares. E isso pode gerar mais outros US$ 7 bilhões. É assim que chegamos ao US$ 1,3 trilhão.
Como encorajar os outros países a ampliarem suas contribuições?
Essa é a grande missão do (presidente da COP-30) André Corrêa do Lago. Viajo pelo mundo inteiro e por onde o vejo que os países continuam comprometidos com o objetivo final: emissões líquidas zero. Ninguém está recuando em relação a essa meta. Mas agora estamos na fase de transição, e isso é difícil.
Precisamos retirar os subsídios — os prejudiciais— aos combustíveis fósseis, mas também garantir que a energia continue sendo ível para as pessoas. Ou seja, não devemos subsidiar excessivamente a indústria, mas também não podemos deixar a população sem o à energia.
Também precisamos descobrir como investir na natureza, reduzir as emissões do setor de transportes, realizar mineração, mas de forma eficiente e sustentável. São desafios complexos.
Mas não vejo nenhum país desistindo da ambição climática. Todos estão tentando entender como fazer isso na prática. E é por isso que o Brasil está dizendo que esta é a década da implementação.
No tema do financiamento, sim, há restrições no financiamento público para o desenvolvimento. Mas hoje sabemos muito mais sobre como atrair capital privado. E também precisamos começar a cobrar taxas de quem polui. No fim das contas, quem polui tem que pagar.
Países como a China devem ser incluídos como doadores?
Países como a China já atuam como doadores. A estimativa é que a China, junto com outras grandes economias emergentes, já esteja contribuindo de forma significativa. Quando analisamos os fluxos financeiros provenientes dos bancos multilaterais de desenvolvimento, por exemplo, eles já somam cerca de US$ 5 bilhões. Além disso, esses países mantêm diversos programas bilaterais que, embora não sejam amplamente divulgados ou monitorados, também representam contribuições importantes. No entanto, essas contribuições são voluntárias.
Portanto, sim, esses países poderiam contribuir mais, mas de maneira voluntária. De acordo com o Acordo de Paris e com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), as responsabilidades foram definidas com base em quem se industrializou no século ado. Esses países, como o nosso, têm a obrigação de contribuir. Por isso, acredito que Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, China e outras economias emergentes devem, sim, contribuir, mas de forma voluntária. E é importante deixar claro: eles já estão contribuindo.
O Brasil tem uma missão importante em rever as metas do Acordo de Paris durante a COP-30. Temos força política suficiente para isso?
A resposta curta é: sim. O Brasil tem alcance global. Gerenciou muito bem o G-20 no ano ado. Conduziu muito bem duas conferências marcantes sobre desenvolvimento sustentável, em 1992 e 2012. Está liderando agora o processo dos BRICS. Quando se observa a equipe que está conduzindo, há pessoas de renome internacional em cada parte do processo. Não há muitos países que conseguiriam montar uma equipe tão experiente e sofisticada para liderar uma iniciativa assim. Então, honestamente, se o Brasil não conseguir fazer isso, eu não sei quem conseguiria.
Acho que este é o momento certo. É o ponto de virada para a implementação. O Brasil apresentou uma NDC (contribuição nacionalmente determinada, na sigla em inglês) cujo ponto mais ambicioso é de fato ousado. É um país que pode dizer: “isto é o que estamos fazendo”. Não está pedindo que outros países façam algo que ele mesmo não esteja tentando fazer. Então, acho que a comunidade internacional se sente segura nas mãos do Brasil.
Você já visitou Belém. Considera que os problemas logísticos da cidade possam afetar os resultados da COP-30?
Estamos confortáveis nas mãos do Brasil. Essa é uma decisão do Brasil. Nós apoiamos. Acho que há toda uma conversa sobre o que é uma COP. Há as negociações e todas as atividades que acontecem ao redor. Algumas delas não estarão em Belém — se estiverem no Rio de Janeiro, em Brasília, ou em São Paulo, não acho, necessariamente, que seja uma má ideia.
Mas eu já fui a muitas, muitas COPs. E te digo: a logística afeta o clima das negociações. Nós confiamos que o Brasil vai garantir que o ambiente seja propício para uma boa negociação. Eu estava em Paris, e comi sanduíche de presunto todos os dias por duas semanas. Você está em Paris, pensa que vai comer comida sa, mas na verdade, durante as negociações, você só come sanduíche de presunto. Então, a logística importa. Mas confiamos nos brasileiros para isso. Confiamos que farão um bom trabalho.
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Na COP de Dubai, os países acordaram em fazer uma transição rumo ao fim do uso de combustíveis fósseis. No entanto, não há definição sobre como isso será feito. Como implementar essa agenda?
Precisamos discutir como vamos implementar o que foi acordado em Dubai. Todos concordamos que faríamos isso. A diferença está em como fazer. Mas acho que há questões universais importantes. E uma delas — acho que uma relativamente fácil — é que a indústria de petróleo e gás deveria avançar ainda mais no controle das suas emissões de metano. É algo relativamente simples de fazer.
Onde eu realmente gostaria de ver algum progresso na COP-30 é em sermos mais específicos sobre os subsídios aos combustíveis fósseis. O FMI estima que temos US$ 7 trilhões em investimentos relacionados a isso, formal ou informalmente. E acho que seria útil entender um pouco melhor como esses subsídios se apresentam. País por país, empresa por empresa. Porque a energia renovável é mais barata, mas estamos operando em uma economia onde os combustíveis fósseis estão sendo subsidiados em um nível extraordinário — e isso aumentou na maioria dos países.
Acho que ao jogar luz sobre isso, (saber) quem está recebendo esse tipo de subsídio? Ajudará o público a não ter medo da energia limpa e do futuro.
Alguns especialistas acreditam que a Europa perdeu a liderança nas discussões climáticas. Qual sua opinião?
Ao longo dos últimos 10 anos, aprendemos — e com isso quero dizer, como o resto do mundo — que é preciso ser confiável. Ou seja, é preciso fazer o que se diz que vai fazer. E está claro que a maioria dos países não está, como comunidade global, no caminho certo. Então precisamos acelerar e voltar para o rumo certo.
O Reino Unido apresentou uma NDC extremamente ambiciosa, mas viável, em novembro. E nossa NDC foi moldada pelo nosso Comitê de Mudanças Climáticas. Temos um processo legal. Temos uma lei que diz que temos um orçamento de carbono e que precisamos usá-lo — temos que manter esse orçamento. Temos que manter o rumo. Então, mesmo com a política ficando mais polarizada em relação às mudanças climáticas, temos uma lei que exige que sigamos esse caminho.
Foi muito interessante quando lançamos nossa NDC. Alguns outros países desenvolvidos disseram: “isso é muito ambicioso”, e respondemos: “sim, porque precisamos acelerar”. Primeiro, porque a lei exige isso. E segundo, porque a segurança do povo britânico depende disso.
É muito mais fácil pedir que outros países façam aquilo que você mesmo está fazendo, do que simplesmente pedir que façam algo só porque você está dizendo. E acho que, em alguns momentos dos últimos 10 anos, o Norte (países desenvolvidos) soou como se estivesse pedindo que outros fizessem coisas que eles mesmos não estavam fazendo.
Este governo britânico está tentando pedir que outros países façam como fazemos. Nós, como comunidade global, precisamos acelerar. Só podemos fazer isso juntos.
Mas há um certo pragmatismo. Só porque os Estados Unidos saíram (de um acordo), isso não está afetando o que os outros estão fazendo. O governo britânico precisa proteger os interesses do povo britânico, independentemente do que os Estados Unidos decidam fazer. Eles são um aliado, mas... não vamos abandonar nossa meta de zero emissões líquidas só porque eles decidiram fazê-lo.
Falando nisso, qual o impacto dessa saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris na COP-30?
Só temos um planeta, então seria obviamente melhor que eles estivessem participando. Seria muito melhor se estivessem dentro, mas só porque saíram, não significa que os outros estejam mudando seus objetivos ou metas.
Obviamente, os EUA são uma economia muito grande, e precisamos de livre comércio. Precisamos de estratégias industriais em países que necessitam de investimento. E, bem, os EUA podem fazer parte disso — ou não. Então, não é bom que a maior economia do mundo esteja fora, mas tenho que dizer que, quando você vai para a Ásia, em particular, vê que o crescimento e a segurança deles dependem da gestão das mudanças climáticas.
A China já afirmou em várias ocasiões, desde que os EUA indicaram que estavam saindo, que acredita nos processos multilaterais e que continuará envolvida. Todos na União Europeia continuam engajados. Eu estava em Cingapura, todos os mercados financeiros, os financiadores do mundo inteiro estavam lá, todos falando sobre investimento verde.
Não quero minimizar isso — seria muito melhor se os EUA estivessem dentro — mas ninguém mais está indo embora ou saindo da festa neste momento.
Você citou a China. Acha que ela pode liderar esse debate com a saída dos EUA?
Independentemente de os Estados Unidos estarem saindo ou permanecendo, o mundo é um lugar onde nosso sucesso coletivo depende do crescimento da China, Índia, Brasil, Indonésia. São nações cujas emissões, à medida que crescem, precisam crescer de forma sustentável. Por isso, a estratégia para o Reino Unido é que devemos investir no crescimento verde desses países. Energia renovável, veículos elétricos.
Também precisamos parar o desmatamento, e por isso devemos investir no Brasil, na Indonésia, no Congo — é por isso que o financiamento para a natureza é tão importante. Precisamos parar de desmatar e precisamos de eletricidade limpa, que alimente nossas economias. Essas duas coisas tornam os países de renda média extremamente importantes, porque são esses os países que estão crescendo. São esses os países que têm os recursos.
Portanto, independentemente de os Estados Unidos estarem ou não engajados, essa nova geografia econômica das mudanças climáticas é real. A China é um ator muito importante. A conversa que estamos tendo no setor de energia é: eles já atingiram o pico de emissões? Qual é a mistura entre renováveis e carvão? Cada país está tentando gerenciar suas taxas de crescimento.
A Índia tem aspirações de crescer acima de 7%. A Indonésia já disse que quer crescer 8%. Até mesmo o Vietnã quer crescer 10%. Esse crescimento precisa ser verde, e eles não estão dizendo que querem que seu crescimento seja diferente disso. Mas precisamos ser capazes de apoiá-los para que isso aconteça.
Temos um contexto global marcado por guerras e governos ultraconservadores. É realista esperar metas ousadas?
Democracia e paz são fundamentais para o sucesso na luta contra as mudanças climáticas. A ação contra as mudanças climáticas é fundamental para a democracia.
Guerras são realmente ruins para o clima, mudanças climáticas são muito ruins para a segurança, e você pode ver as mudanças climáticas instigando e agravando conflitos ao redor do mundo. E também pode ver os impactos climáticos da guerra.
Para um país como o Reino Unido, o objetivo é apoiar a democracia, apoiar o Estado de direito, ou seja, protegê-los e ampliar a paz. Temos um secretário de Relações Exteriores que colocou o clima e a natureza no centro da política externa. Por quê? Porque não alcançamos a união pacífica das nações sem isso.
Isso redefine nosso relacionamento com o globo. A natureza que precisamos para viver neste planeta está principalmente no hemisfério sul, em regiões tropicais. Isso precisa moldar nossa relação.
E as emissões que são tão perigosas para o povo britânico e para todo mundo vêm também de economias que estão crescendo rapidamente. Então, isso precisa moldar nossas parcerias.
Mas não é o caso de dizemos para vocês o que fazer, é dizer: “Estamos aqui. Somos parceiros, investidores, parceiros comerciais, parceiros técnicos. Como podemos trabalhar juntos?”. É um campo muito diferente.
Que resultados são necessários para considerar a COP-30 um sucesso?
É uma década de implementação, então, você vai ver todo tipo de progresso em diferentes áreas. Os brasileiros vão apresentar um roteiro que mostra como crescer de US$ 300 bilhões para US$ 1,3 trilhão. E aí todos nós teremos que fazer isso. Acho que começaremos a ver muitas conversas muito detalhadas sobre como fazer. Isso é bom.
Espero que haja um grande programa sobre natureza e finanças, e, com sorte, um acordo sobre o formato do TFFF, algo sobre mercados de carbono, e outras formas de financiar a natureza.
Podemos conseguir alguns acordos sobre clima e saúde? Como vamos garantir que nossos sistemas de saúde possam operar em um mundo com mudanças climáticas e cuidar da saúde pública em meio a uma crise climática? Podemos avançar na discussão sobre subsídios aos combustíveis fósseis e como eliminá-los gradualmente?
O que as cidades precisam para avançar? As cidades estão na linha de frente, gerenciando o calor extremo. E também há áreas que estamos apenas começando a pensar, como os biocombustíveis sustentáveis para aviação. A aviação é uma das áreas difíceis de descarbonizar, e estamos atrasados.
E então, as próprias negociações. Precisamos de um roteiro para a implementação. Precisamos de um acordo que reconheça esse roteiro de financiamento.
Algo muito importante que o Brasil precisa fazer é deixar claro para o público mundial que estamos cuidando do que precisamos cuidar e que é possível gerenciar essa crise. Detesto a ideia das pessoas começarem a perder a fé. Existe o risco de perderem a confiança nessas grandes negociações. E acho que é papel do Brasil, com a nossa ajuda, é convencer todo mundo de que isso é importante.
O Reino Unido foi a primeira grande economia a se comprometer com emissões zero até 2050. O que estão fazendo para viabilizar essa meta?
O coração disso tudo são as nossas emissões domésticas de energia. Até 2030, queremos estar com cerca de 95% de energia limpa, o que significa que precisamos continuar aumentando nossa capacidade de energia renovável.
Este governo expandiu a energia eólica offshore, permitiu a energia eólica onshore pela primeira vez e está investindo em energia solar — painéis solares em telhados, sistemas solares em escolas. Quando você pensa no Reino Unido, não pensa em clima ensolarado, mas mesmo assim temos energia solar.
Isso também significa captura e armazenamento de carbono, porque ainda temos uma economia baseada em gás no momento. Também somos uma economia nuclear, então temos energia nuclear e isso vai continuar. Estamos também analisando pequenos reatores modulares.
Nossa missão doméstica está avançando o mais rápido que podemos. O cerne da nossa capacidade de cumprir as metas de zero emissões até 2030 e 2050 é acertar a transição energética. Isso vai alimentar o transporte, novos negócios e outras partes da economia.
Também temos que lidar com nossa resiliência. Temos nossas próprias dificuldades, como vocês. Vocês sofreram inundações devastadoras no Sul, e nós também somos propensos a inundações, embora não na mesma escala. Temos de descobrir como proteger nossa população também.
Mas o foco principal neste período é colocar a transição energética nos trilhos, porque isso vai mover a economia e garantir nossa segurança energética. O que, após a invasão russa à Ucrânia, é realmente importante.